31.12.05

Victorialand parte 2

Sábado, 31.. Solzão, Praia da Costa.. Cerveja e mar, o tempo ajuda, finalmente.. A noite roubada do Electroclash a dois real eu conto depois.. Ligo para Brasília: Alô? Tudo bom, linda? Tô com saudade.. Sou um romântico incorrigível.. Caranguejo do Assis: os crustáceos, casquinha de siri, muqueca de dourada com molho de camarão, banana, pimenta.. Um caldeirão de sabores.. A felicidade pode ser tão estúpida.. Mombojó: Deixe-se acreditar/ Nada vai te acontecer/ Tudo pode ser / Nada vai acontecer / Não tema / Esse é o reino da alegria.. Ano novo, tudo de bom para vocês, mais um.. Vamos lá!.. E que a terra nos seja leve..

29.12.05

Victorialand parte 1

* Busão barulhento, buracos na estrada, mexe e remexe e rebola.. Madrugada insone sem conseguir ler.. Deus abençoe o MP3 Player, o meu Ipobre.. Aproveito a viagem para ouvir discos menosprezados, desbravando territórios musicais quase virgens: One Soul Now (Cowboy Junkies), Richard D. James Album (Aphex Twins), Tago Mago (Can), Blowout Comb (Digable Planets), Paebiru (Zé Ramalho e Lula Cortes), o EP do Arcade Fire.. Todos dormindo, aproveito para fumar alguns cigarros escondidos no banheiro.. O odor nada agradável do lugar faz com que o cheiro da minha fumaça passe despercebido..

*Bares de Vitória: Empório São Raphael, Bar do Ceará, Bar do Henriq (assim mesmo, não cabia o resto no letreiro), Jazz Café (não, não é franquia).. Bons rangos (filé com molho de mostarda e estragão no primeiro; no segundo, pastéis de camarão e bacalhau e pescadinha).. O atendimento é ruim de doer, faz qualquer um passar raiva.. Semana de Reveillon, a cidade está parada, poucas opções..

*Hoje, quinta-feira, estréia nas pick-ups.. Saiu assim no jornal: Gazz - Djs residentes: Dessa (minimal techno), Kalunga (breakbeat/progressive) e Rike (electro/disco-punk). Dj convidado: Dr. Fróes-DF (electro/electroclash). 20h. Couvert: R$ 2. Quiosques do Duda's e Plataforma 16, Curva da Jurema, Vitória. Uau, tocar na praia, experiência nova.. O tempo está fechando, se chover vai foder tudo..

* Tarde na Praia de Itapoã, pescadores, redes cheias.. Droga, esqueci o meu disco do Caymmi.. Uma cerveja e dois peruás, por favor.. Cato o livro da minha hospedeira, Hell's Angels, medo e delírio sobre duas rodas.. Muito foda o seu Thompson.. Tirei o bode que o livro A grande caçada aos tubarões tinha deixado sobre o rei do gonzo.. Traz mais uma!

26.12.05

Doctor Fróes on the road..

Hoje pego o busão que vai me levar para a praia.. Vitória/ES.. Viajar alone, by miself, faz tempo não sei bem o que é isso.. Um albergue, livros e um mp3 player, quem precisa mais do que isso? Um peroá frito e uma cervejinha vendo o pôr-do-sol à beira-mar, isso sim é a felicidade.. Ainda terei o prazer de reencontrar uma grande amiga.. Se tudo der certo, devo tocar numa festinha de ano-novo e também numa boate capixaba... É a minha PopLoad Tour.. Se houver as condições necessárias, e tempo, e saco, dou uma atualizada nesse blog de lá mesmo.. Para quem fica, boas entradas, saídas e viradas em 2006 e que deixem essa deprê do caralho para trás.. Volto a tempo de comemorar o meu aniversário com vocês.. A festinha já está marcada: quarta-feira, dia 11 de janeiro, Gate's Pub, com o próprio aniversariante, Ed e Zeca nos vinis.. É isso, see ya!

25.12.05


Conselhos sexuais do Dr. Mingus.. Tambem, olha o tamanho do instrumento dele..

Putarias literárias..

Inspirado por uma noite de puro sexo oral (ou seja, discutindo putarias) no Otello (que saudades das saideiras no Rock'N'Roll), vou transcrever aqui um diálogo do livro Saindo da sarjeta, de Charles Mingus, que ganhei de Natal.. O então jovem baixista ouve do pai de um amigo um "conselho" de como se dar bem fora dos palcos. "Para aqueles que não tem o talento natural, algumas regras para foder bem":

"Beije-a. Acaricie-a por algum tempo. Então enfie a sua vara, só a ponta, a cabeça. Esfregue-a na racha dela por muito tempo, sobre o clitóris, entre um pouquinho e saia, de baixo até em cima e ao redor dos lábios, enquanto ela está se aquecendo para você. Vai fazer amor assim durante horas, beijando, acariciando, chupando seus seios e dedilhando aquela bucetinha gostosa até ela implorar por você. Então não crave a coisa com força nela. Coloque a cabeça de um jeito suave e delicado".

(...) "Depois que a coisa está no ponto e úmida, molhando todos os lençóis, não dê aquela trepada toda anormal dos brancos. Simplesmente foda à boa maneira antiga. (...) A essa altura ela está morrendo de tanto esperar, mas você continua brincando, enfiando gradualmente. Fique dentro dela um pouquinho para ela saber o tipo de delícia que você tem, mas recolha a peça se ela desejar muito avidamente, saia até a borda dos lábios. Então subitamente, enfie tão duro e fundo quanto puder e aquente ali firme e forte como uma rocha, balançando de um lado para o outro. Então tire quase todo."

(Depois de mais idas e vindas, ele continua) "Agora ela começa a implorar para que você enfie como você acabou de fazer. Não faça isso. Brinque e provoque mais um pouco. Se ela nunca fez coisa parecida antes, vai começar a ficar frenética, a choramingar e a implorar. Então - quando você quiser - enfie nela de novo, duro, rápido e fundo. Enfie tudo e fique firme e balance de um lado para o outro, beije-a e a mantenha no ritmo do seu balanço. Então relaxe e finja que vai tirar. Tire, e sem dúvida ela o vai agarrar, pedir e implorar por favor para você foder com ela do jeito que você quer, e então vai poder ter um daqueles Cadillacs lá fora à sua espera!"

Parece que o seu Mingus fez sucesso com a tal receita.. Mas, é preciso cuidado ao tentar aplicá-la às mulheres liberadas, e um tanto quanto impacientes, do século XXI.. Periga ela te comer todo e você é quem vai ficar implorando por mais, choramingando baixinho.. Ou então encontrarem o seu corpo desacordado nos bancos de um corsinha com um sorriso idiota na cara..

22.12.05


Jazz Cafe lotado..

Fernado Rosa e sua incrivel camiseta pink do MC5

Os filhos do Rei 1

Os filhos do Rei 2

O Natal do Rei

O Esquema Lounge encerrou a sua curta existência em 2005 de forma brilhante numa noite surreal.. A decoração incluía luzes brancas natalinas e balões verdes (os mais horrorosos possíveis).. Houve, primeiro, muito stress, já que a banda e seus equipamentos só chegaram depois da meia-noite.. Enquanto isso, Fernando Rosa sacava as mais incríveis pérolas da música brega, da jovem guarda e das bandas novas que seguem esses estilos.. Bar cheio, quando Os filhos do rei começaram a tocar foi uma festa só.. Todo mundo cantando enquanto um maluco dançava perto do balcão fazendo as mais estranhas coreografias.. Os vocalistas se revezavam (Beto Só, Claudio Bull, Rinaldo e um magrinho de gravata bom pacas) passeando pelo melhor do repertório do Roberto Carlos como Detalhes, Quero que vá tudo para o inferno e afins.. No final, já tinha virado karaôke e até eu arrisquei Cavalgada, mas, para sorte dos presentes, acho que ninguém ouviu.. Depois, fiquei tocando pandeiro no canto do palco.. A banda tentou levar Jesus Cristo, mas ninguém sabia a letra.. No final, as pessoas já estavam chapadas e dançavam pelo bar.. A coisa tinha degringolado tanto que até o dono do local já tinha subido no balcão de alegria.. Azar de quem não foi, perdeu, com certeza, o melhor especial Roberto Carlos de Natal da história..

20.12.05


Merchandise 2

Oucam, please!!

Manhã de sol florida, cheia de coisas maravilhosas

O sol, o sol.. Os olhos ardendo com o vinho da noite anterior reencontram a claridade natural.. Hotride.. Memória / Tilt.. Adocicando a manhã com John Cale, Paris, 1919.. Discaço de uma sublime alegria melancólica que parece querer nos dizer: "sim, apesar de tudo, estamos todos bem".. Tento fazer com que as pessoas esqueçam o apesar de tudo.. Sou um tolo, o espírito feliz ano novo invariavelmente me invade e multiplico-o.. You're a ghost, la la la la la la la, por que vocês não cantam assim? La la la, esquecer, potência criadora.. Paro por aqui antes que meu sorriso tome conta desse blog.. La la la..

18.12.05

Bambis matinais

Madrugada insone, cá estou eu assistindo ao São Paulo X Liverpool e não vou me furtar a fazer comentários futebolísticos.. Para começar, devo admitir: sou, antes de tudo, um torcedor do Fluminense, ou seja, não saco muito do esporte.. Mas algumas coisas eu entendo, tipo: o futebol inglês, ontem e hoje, limita-se a correria, chuveirinhos e cabeçadas, nada que um pouquinho de categoria brasileira não supere sem grandes dificuldades.. A zaga tricolor é uma gracinha e deixa passar tudo pelo alto no primeiro tempo, mas a falta de sorte e categoria dos ingleses colabora..

O São Paulo começou com a cara do Cicinho (que não jogou nada, assim o Cafu fica até 2014 na seleção), mais assustado que seminarista numa noite na Garagem.. Mas, depois do corte humilhante do Amoroso no zagueiro bretão, os bambis acordaram e resolveram jogar um pouquinho.. Duro é aguentar o Galvão e suas pérolas como: "fulano está acostumado a jogar contra esses zagueiros grandões europeus".. Só no outro continente é que existem jogadores de defesa altos e fortes?E o Júnior Baiano, o Cléber, o Betão, são o quê, mirradinhos?

O mico continua no segundo tempo: "O São Paulo está no final da temporada, O Liverpool no meio, será que o time brasileiro vai sentir o cansaço?", pergunta o gênio.. Cansaço? O tricolor passou o segundo semestre todo desfilando no Brasileirão sem suar a camisa.. Galvão grita gol enquanto vemos o jogador voltando para o seu campo sem comemorar, até que ele se toca que o lance já estava parado.. O melhor foi no final: imagem do torcedor do Liverpool e a besta: "Olha o desespero do torcedor" ao mesmo tempo em que o sujeito começa a acenar e fazer gracinhas para a câmera..

O segundo tempo foi um saco: os bambis foram para uma retranca horrorosa enquanto os ingleses mostravam a total ignorância na arte de jogar futebol.. Em 45 minutos não conseguem fazer uma, nem umazinha jogada trabalhada, uma tabela, um drible, perto do grande área.. É só lançamento, jogada de linha de fundo e chuveirinho.. O São Paulo ganhou o tri com um time tão mais ou menos que o seu grande destaque é o goleiro.. O futebol já foi mais interessante.

Landscape, madrugada, um homem feliz e uma maquina fotografica..

Foi bom para vocês?

Uma das regras que procuro seguir nesse blog é a de nunca escrever chegando da noite.. Os textos saem confusos, exagerados e mal-escritos.. Bem, nem sempre consigo evitar, como vocês podem perceber pelo post anterior.. Então, vamos à versão sóbria da sexta-feira no Landscape..

Não tenho os números oficiais, mas calculo que umas cem pessoas devem ter passado pelo local naquela noite, o suficiente para manter a pista sempre em boa quantidade.. Quando peguei o som, pouco antes das duas (acho), o Zeca e o Ed vinham de uma sequência maravilhosa, o que facilitou um bocado.. A nova do Franz Ferdinand foi a deixa para a minha entrada, prontamente emendada com Juicebox, dos Strokes.. Fiz uma sequência mantendo o pique acelerado, com Kings of Leon (foram três deles na noite) e coisas assim, até ir baixando para soms mais suaves, como Loverfool e Lips Like Sugar (uma homenagem particular para aquela data).. Não, não houve nada como despirocações mil, foi um set até bem certinho, mas que teve o mérito de segurar a onda sem precisar apelar muito, com exceção, provavelmente, de It's the end of the world.. Não pedi ajuda aos universitários e nem ao Cake, New Order, Supergrass, Blur, The Cure e aos seus hits óbvios..

A pista entendeu e incentivou.. Não há nada melhor do que ouvir gritinhos de aprovação ao tocar, por exemplo, Handsome Devil, um Smiths menos óbvio.. Foi uma noite para lavar a minha alma ferida de DJ, quase soterrada nesse 2005 em que raras foram as chances de assumir as pick-ups.. Tentar descrever o tesão que dá uma noite dessas seria um esforço inútil.. Pulei e dancei mais do que todo mundo, acho que até o Marky ficaria com inveja (bem, a tequila ajudou um pouco).. Deixei o som com The Rat, do Walkmen e ainda voltei no final para, já mais relaxado, tocar para os amigos e, aí sim, dar uma despirocada.. Holiday in Cambodja para pogar juntos.. Aquele papo de rockstar de que estar sobre um palco é como um orgasmo, bem, é a mais pura verdade.. Eu gozei! E aí, foi bom para vocês?

17.12.05


"We got a city to love"

King Gargoola..

São seis horas da manhã de uma sexta-feira e não posso dormir pq tem um morcego no meu quarto.. Aproveito para digitar essas mal traçadas chegando do Landscape.. OK, a festa não bombou, mas a pista estava cheia o suficiente para ouvir a versão de Dreams, do Cramberies, em cantônes, sem esvaziar.. Acho (e a essa altura da manhã é o máximo que posso fazer) que mandei bem, muitas músicas novas, alguns hits menos óbvios, despirocações mil (toquei Oz e ainda ouvi u-hus por causa disso).. Poucos (e selecionados) amigos apareceram, I Love You All! Tenho fotos, que postarei amanhã.. Sou um homem feliz.. A chuva não para.. Brasília, vou dar um tempo de você, mas daqui há pouco volto, ainda temos muito o que viver juntos.. Chega!

15.12.05


Trapecio, de Jesus Rafael-Soto

Just a perfect day..

* Quer coisa melhor do que passar uma tarde de bobeira no CCBB? Só de ficar ali, embaixo do maior pilotis de Brasília, tomando um café nessa chuvinha, já vale a visita.. A exposição em cartaz atualmente é do artista plástico venezuelo Jesús Rafael-Soto, de quem lembro de ter visto algumas peças em Buenos Aires.. Um barato o passeio ultra-sensorial pelos 25 exemplares da obra cinética do artista, verdadeiras imagens em movimento que nos deixa desnorteados, às vezes hipnotizados, e com a pulga atrás da orelha sobre a veracidade da nossa percepção visual das coisas.. Perde não!

* Depois de intermináveis partidas de sinuca ao som de Kings of Leon, vou parar numa noite de boteco com uma das melhores coleções de histórias sobre a loucura e a despirocação que acometem os exemplares do gênero humano.. A melhor de todas: a mãe de dois bebês, 2 e 3 anos de idade, acorda pela enésima madrugada consecutiva com o choro dos infantes pedindo comida.. "Dedeia", grita um, enquanto o outro faz coro apenas com os berros, num ritual noturno habitual.. Mal intuiam os pequenos que aquela noite seria diferente.. Enfurecida, a progenitora retira a prole do berço, levando-os para a cozinha, pega as mamadeiras já previamente preparadas e... taca fogo nelas! Enquanto as crianças assistem às chamas consumir o plástico, a mãe, não muito controladamente, "explica-lhes" a nova situação: "Tão vendo, nunca mais dedeia, acabou".. O tratamento de choque deu certo e, naquela casa, não se ouviu mais choros na madrugada, afinal, até os bebês entendem que não se deve brincar com os limites da sanidade..

14.12.05


Anthony Rother, o papa do electro..

Só por hoje..

.. a melhor música do mundo é Hacker, do Anthony Rother.. Não, ela não é emotiva, a letra (que mal dá para entender) passa longe de falar sobre nossas vidas, e ouví-la não provoca a vontade de sair dando pulinhos de alegria.. Rother é o papa do electro, o cara que pegou os robozinhos do Kraftwerk e vestiou-os de preto, deixando-os com cara de mal e fazendo o símbolo dos dedos mindinho e indicador em riste.. Os teclados da introdução dão vontade de chorar de tão lindos.. A batida é clássica e chega com classe.. O vocal aguça a sensação de estranhamento.. A música segue impávida e nos frustra, "você nunca terá o bastante, só o suficiente", parece querer dizer como o personagem de Um Copo de Cólera.. O que ela quer de nós???

12.12.05


O bombardeio ao Palacio de la Moneda

Pela história, pelo mundo, Nazi Punks Fuck Off!

* Assisto à primeira parte de um documentário entitulado A Batalha do Chile (são 4 DVDs, disponíveis na Loc Video (104 Sul), definitivamente a melhor da cidade), sobre o golpe contra Allende.. Realizado ainda na década de 70, é nitidamente partidário, mas traz um vasto material da época.. Me impressionam as manifestações fascitas no Chile, do grupo Pátria e Liberdade, que nem imaginava existir, o líder da greve dos mineiros que, dedura a legenda, se tornará membro da ditadura de Pinochet, um deputado do Partido Democrata Cristão que desdenha da morte de um operário, baleado em frente a sede de seu partido, a morte de um cinegrafista argentino que cai com a câmera ligada depois de ser covardemente alvejado por um militar.. O coração aperta sob o impacto das imagens de uma das mais tristes páginas da história latino-americana..

* Impossível não fazer a associação com o governo de Chavez e torcer por ele .. Assim como Allende, ele enfrentou uma desgastante greve de empresários, o desabastecimento, um frustrado golpe de estado apoiado pelos EUA, uma oposição anti-democrática (patética a tentativa de desacreditar as últimas eleições desistindo de concorrer ao pleito).. Tenho minhas restrições ao admirador de Fidel, mas é impossível negar que ele sacou e não repetiu os erros de Allende: um governo revolucionário não se sustenta sem mudanças profundas na estrutura política do país (Congresso, Judiciário, meios de comunicação).. É difícil avaliar o governo do líder bolivariano, já que a polarização e o radicalismo provocado por ele distorce e compromete as informações que nos chegam.. O tempo e a história nos dirão se ele era apenas um populista de esquerda ou um autêntico revolucionário..

* O imperialismo, essa palavrinha tão fora de moda, relembrada no documentário chileno, está comendo solto na África, como mostra a excelente repertagem da revista alemã Der Spiegel (traduzida no UOL Mídia Global).. A China, sem os seus pruridos sobre direitos humanos e terrorismo ("não importa a cor do gato, e sim que ele cace ratos", já diria Deng Xiapoing) , vem expandindo seus tentáculos sobre o continente, aliando-se aos sanguinários ditadores africanos em busca de petróleo e matérias-primas.. Enquanto isso, reportagem do Le Monde acusa o exército francês de colaboração no massacre de Ruanda (vejam Hotel Ruanda e tentem comemorar o Natal).. Atualidades leninistas no mundo globalizado.. Vem cá, o século XIX não acabou não?

* O século XX tampouco parece ter (ser) passado.. Me causou desconforto, num passeio pelas livrarias da cidade, a quantidade de obras sobre a II Guerra e o nazismo.. Num papo no Jazz Café, ouvi relatos (antigos, é verdade) sobre os carecas de Taguatinga, mas não dá para esquecer que um bando desses animais estúpidos foi preso no sul dia desses.. E as manifestações racistas na Austrália? Uma das minhas melhores fantasias agressivas é a de pegar um neonazista e espancá-lo até a morte.. A cena é mais ou menos assim: ele caído numa rua deserta e eu bicando a sua cabeça sem dó até bem depois que ele já tenha perdido os sentidos e partido diretamente para o inferno.. Mas um extintor de incêndio, como em Irreversível, não seria nada mal..

11.12.05


A pizza do Baco..

Pizza & Vinho

A frase é da minha irmã: "domingo é o único dia em que sinto falta de um namorado".. Bem, eu não, já que costumo dedicar o dia do descanso cristão ao futebol e às mesas redondas.. É um dia péssimo para namorar: ou ela quer te levar praquele almoço de família ou ao cinema lotado (um comportamento interessante que deve ter algum significado que não compreendo).. O problema para quem está solteiro é achar uma companhia para dividir uma mesa de boteco no famigerado último dia do fim-de-semana.. Solteiros, fomos eu e minha irmã fazer um programa casalzinho: tomar vinho e comer uma pizza.. O Baco continua uma delícia, minha pizzaria favorita (a calabreza bêbada é fantástica, a de shimeji com alho poró também), mais pelo clima e pelo bom atendimento, uma preciosidade nessa cidade.. E o domingo passou, será que vale a pena ir amanhã no tal do Criolina? Veremos..

Vamos viver a vida..

Words, words, words..

* Sonho erótico de um cinéfilo numa noite chuvosa de sábado: vou ao que seria um Instituto Nacional de Cinema na W3.. Eles tem um acervo com poucos filmes, fitas e DVDs empilhados, mas, entre eles, alguns do Glauber que nunca vi, como Claro e O Leão de Sete Cabeças.. Uma menina linda me leva para a sala onde estão a TV e o videocassete.. Enquanto vemos os filmes e conversamos (ela era bancária tb e reclamava do excesso de trabalho(?)), amassos mil e o temor de que a chefe entrasse no local.. Assim, até as porra-louquices do Glauber ficam interessantes..

* Anna Karina em Viver a Vida (Godard): ela pergunta ao senhor da mesa ao lado se ele lhe pagaria um drinque. Ele é um filósofo e os dois começam a divagar. A certa altura do diálogo, ela diz (na péssima tradução): "Por que alguém sempre tem que falar? Muitas vezes não deveria falar, e sim ficar em silêncio. Por mais que alguém fale, menos as palavras significam". "Descobri que não conseguimos viver sem conversar", lhe explica o homem.. Eu também e por isso falo, falo, falo sem parar.. Flashes da noite de sexta-feira (esticada até as 7:30 da manhã) me vieram à mente: a pós-modernidade, a estética da afetividade e a situação econômica da Argentina foram alguns dos assuntos que perpassaram as conversas daquela noite.. O melhor foi a cena tipicamente godardiana: no meio do Landscape lotado, imprensado na parede, travava um improvável diálogo sobre a obra de Camus.. Algo nela (a interlocutora) me lembrava a Anna Karina, talvez os olhos, o cabelo anos 60 ou a postura meio existencialista.. Só faltava tirar o livro do bolso e começar a recitar..

* Me chamou a atenção nessa noite a DJ que animava (será?) a pista.. Novinha, não deveria passar dos 22 anos.. Parece que tinha levado o set pronto, pois ficava só parada, fumando e bebendo, sem ter na cara aquela dúvida do "o que vou tocar depois disso?", numa segurança incomum para uma (provável) iniciante.. O som dela misturava rock e eletroclash, com algumas pérolas bacanas (como 24 hour party people, do Happy Mondays), mas era assexuado e tedioso, blase, enfim, bem a cara dela e de uma parte dessa juventude atual..

9.12.05


Merchandise 1

We call it Aaaaaacid! (Foto by celular do Doctor Froes)

8.12.05

Intelligent Dance Music

Descubro, já no final do Esquema Lounge, que Isn't e The Six estão tocando na Quarta Vinil.. Corro para lá, afinal, são os meus DJs preferidos e há tempo não os ouço.. Gate's lotado às 2 da matina, bem diferente das últimas vezes que passei por lá.. No som, acid house, breakbeat hardcore e tecno das antigas duma época que não vivi.. Não, eu nunca fui ao Wlod e a Micra eu só conheci num diazinho derrota rock'n'roll.. Minha primeira festa eletrônica foi lá pelos idos de 97, 98 num clube qualquer, e, se não me engano, com o Isn't tocando d&b numa tenda à beira do lago junto com um percusionista.. Pirei!

Isn't e The Six são os melhores antídotos para quem não curte a repetição do bate-estaca.. Das minhas andanças pelas pistas do mundo (oh, pretensão, nunca passei de Buenos Aires), não há nada parecido.. No som deles, tudo se mistura, estilos, épocas e bpms, o inesperado, o exdrúxulo e o despirocado.. Nada de transe, batidas hipnóticas ou moto-contínuo, a mixagem quebra a continuidade, puro Godard.. Os vocais predominam, a música como canção, o bpm cai, re-sensibilizando e re-erotizando a pista e todos nós, disco dancers (and sweet romancers), alienados e embrutecidos pelo fundamentalismo dos guetos estilísticos.. Intelligent dance music, não um rótulo, e sim uma ética..

A noite acaba com uma versão brega remix de Hotel California enquanto uma balzaca de vestido prateado se joga desesperadamente na pista.. Para que o ego deles limite-se ao tamanho do talento, solto o comentário: "Vcs tocam tão certinho com vinil, pq fazem tanta lambança quando estão com CDs?".. O olhar de The Six me fuzila.. Nada não, meninos, só uma provocação, continuem assim..

7.12.05


Cena do filme I giorni dell�abbandono

Cuidado com as balzacas..

Mostra Veneza no Cine Brasília, com os filmes que concorreram no festival italiano desse ano, na faixa.. Bom público, bate a tradicional revolta contra a Secretaria de Cultura.. Nem aquele café ruinzinho existe mais por lá.. A programação não sai nos jornais, pelo menos não no Correio, CorreioWeb e Candango (incompetência da assessoria ou sacanagem dos veículos?).. No site da Secretaria, o filme anunciado não é o mesmo que vemos na tela.. Desperdício e descasso, viva o Pedro Bó e o Roriz!
I giorni dell’abbandono, de Roberto Faenza, é a película exibida, um belo filme. Conta a história de uma mãe de família que, subitamente, é abandonada pelo marido que, além de trocá-la por uma ninfeta paty, lhe deixa um casal de filhos pequenos.. Essa pobre mulher, chegando aos 40, simplesmente pira.. Faz cenas, dá pitis e tudo o que pode acontecer de errado com ela acontece (o celular quebra, o telefone fixo dá defeito, a tranca da porta dá pau).. O diretor ri da desgraça da personagem ao mesmo tempo em que se compadece da sua dor.. Não, ela não é só a mãe e a esposa: ela é uma pessoa insegura, frágil, perdida, gente como a gente, mostra o filme.. Ela toma um porre, briga com os filhos, tenta dar para o vizinho, quase mata a amante do marido, tudo muito patético e demasiado humano..
Saindo do cinema, uma cervejinha no Beira.. Na mesa ao lado, luzes já apagadas, uma dona também dá piti, tenta bater no marido ou namorado, quebra um copo e joga a cerveja em nossa direção, molhando o meu amigo.. "Você vai pro hotel comigo agora", gritava a desequilibrada, provavelmente com o nariz empoado.. Mulheres com mais de trinta são fascinantes e perigosas: quem tem, tem medo!

6.12.05


Poser!!

Goianão Louco..

Centro Cultural Martim Cererê.. São dois teatros e uma pracinha com os bares e lojinhas, bem bonitinho.. O público era pequeno, só ocupava metade da capacidade de cada teatro.. Mulecada total.. Um nativo me explica que o festival era realizado no Jóquei, a R$ 5 por cabeça, e que, por falta de grana, eles transferiram o lugar e triplicaram o preço do ingresso.. Deve ser por isso que estava vazio.. Na lojinha de camisetas, uma delas trazia a estampa Goianão Louco.. Quase comprei uma..

As bandas? Bem, digamos que a graça do festival foi ficar falando mal delas..

Zumbi do Mato (RJ): O som era um jazz amalucado, com um vocalista realmente demente. Não fossem as escatologias infantilóides das letras e o som (que estava uma bosta), poderia ter sido um bom show..

Violins (GO): Tinha visto parte do show deles no Porão e achado bacana.. Mas eles fazem tanta pose no estilo Los Hermanos que fiquei com a pulga atrás da orelha.. A banda é redondinha e (acho) está pronta para fazer sucesso.. Mas não trazem nada de novo..

Frank Jorge & Plato Divorak & Empresa Pimenta (RS): Um saco, banda sem peso (a guitarra parecia que não estava plugada), tentando fazer a linha esquisitices pops e tocando cover do Roberto Carlos.. Vou confessar: tenho a maior simpatia, mas acho o Frank Jorge um chato.. Jovem Guarda de cu é rola!!

Zumbis do Espaço (SP): Poser! Punk rock burrão, cujos refrões eram constituídos, na maioria das vezes, apenas de "ou-ou-ooou", faltando apenas o amô e o pelô para virar axé.. Uma das raras exceções à fórmula era uma música com a singele letra de "Espancar e matar, espancar e matar.. até sangrar". O vocalista, um gordo tatuado de chapéu de cowboy e óculos rayban, teve a manha de apresentar uma música assim: "Essa é do nosso clássico álbum...". Humildade é isso aí.. Bomba atômica e corrente servem para a mesma coisa / Seja punk mas não seja burro, já rezavam Os Replicantes..

Se as bandas eram ruins, eu, por outro lado, me diverti pra caralho! A noite terminou com um convite para esticar até o Caldo 24hs, o único lugar aberto em Goiânia aquela hora.. Quando soube que corria o risco de ouvir sertanejo no local, dispensei o convite e fechei a noite relembrando a infância comendo um sandubão num dos milhares de pit-dogs da cidade.

5.12.05


Casamento? To fora..

Fugindo do casamento..

O convite do brother pintou na sexta: vamos para Goiânia ver o jogo no domingo? A minha contra-proposta foi irmos no sábado e pegarmos o Goiânia Noise, prontamente aceita.. Assim, matava a curiosidade em conhecer a cena rocker da "capital" vizinha e não precisaria ir ao casamento..
Odeio casamentos, assim como festas de formatura ou 15 anos.. São cerimônias antiguadas, feitas para a "sociedade", onde ninguém se diverte.. Casamentos servem para mulheres ficarem histéricas durante um mês, pensando no vestido, marcando salão, torrando uma grana para ficarem horrorosas ou engraçadas, com suas escovas, jóias, maquiagem carregada e saltos bregas.. Me lembro da filha do Pai Goriot, de Balzac, que esbanjava a fortuna paterna para aparecer com os melhores vestidos nas festas da Paris do século XIX.. Chegamos ao século XXI e as coisas deveriam mudar, não? Parece que não, concluí, depois de ouvir uma amiga comentar que teve que torrar uma grana comprando dois vestidos caréssimos pois tinha dois casamentos no mesmo mês para ir e "não poderia aparecer com a mesma roupa".. Por que não era uma pergunta masculina demais para ser feita.. Bem, para os homens, o único atrativo são as garrafas de uísque, coisa pouca comparada à apurrinhação e às músicas inevitalmente ruins que serão tocadas.. Caí fora!!
Uns oito anos e três horas de chuva intensa na estrada depois, voltei à cidade na qual passei boa parte da minha infância e começo da adolescência, a Goiânia da família do meu pai.. Coincidência: o hotel ficava ao lado do antigo prédio de um primo, lugar onde (se não me falha a memória), dei o primeiro beijo da minha vida numa armação preparada por uma vizinha numa salada de frutas.. Tati era o nome dela, uma daquelas meninas meio mulecas, descoladas e voluntariosas, mas eu gostava mesmo era de outra, a Lívia, que fazia balé, era tímida, ingênua e pudica (também beijada na mesma brincadeira).. Ali, em frente ao Edifício Dallas, lembrando dessas histórias, me dei conta de que minha vida amorosa é, em grande parte, o eterno conflito entre Tatis e Lívias, ou a busca pela síntese entre as duas, a princesinha e a descolada..
Digressões à parte, voltemos à Goiânia.. Em busca do festival e de um lugar para comer, paramos numa livraria-café-restaurante bonitinho que já estava fechando.. O dono fez questão de reabrir a cozinha e oferecer o prato que estava concorrendo a um festival gastronômico local.. Uma picanha na cerveja razoável, um arroz sem graça, batatas fritas no local da mandioca que tinha acabado, uma saladinha com abacaxi, tudo isso por R$ 9,90 até que não era mal, mas concorrer a um festival com isso é demais..
Pedimos explicações de como chegar ao festival e aí começa o drama de Goiânia.. Já é lugar-comum afirmar que não adianta pedir informações para os apreciadores da frutinha amarela, e é a pura verdade.. Um dos donos do lugar sentou na mesa, tentou fazer um mapa, se atrapalhou todo e concluiu dizendo que "tá tão perto, é tão fácil chegar lá, mas eu não consigo explicar".. Na rua, as indicações pedidas para uns três goianos eram aparentemente simples, mas terminavam no lugar errado ou numa contramão.. Mais de meia hora depois, entre ruas sem nome, vi um cara na esquina com uma camiseta do Pink Floyd e pensei: é por aqui.. Bingo! Como foi o festival eu conto em outro post, ok?

O vocalista do Volver..

Noite imprevisível

O Doutor Fausto vai ter que esperar um pouquinho, o post é sobre baladas.. Sexta foi o primeiro dia do festival do Senhor F.. Rumo ao Gate's, perco os dois primeiros shows conversando, na porta, com uma daquelas companhias adoráveis que apenas a falta de intimidade impede que seja convocada semalmente para uma mesa de boteco..
Entro e pego ainda o show do Volver.. Ouvi o disco uma vez: não me disse nada.. O local está bem vazio e a banda se esforça, são simpáticos e bons de palco os pernambucanos, mas as músicas são todas no estilo "garotas, garotas e garotas", que pobreza.. Parece que tem toda uma geração que adora Cascavelletes (eles tocaram Mestruada), eu não.. Para quem já curtiu muito Little Quail na adolescência, ficou uma sensação de dejá-vu..
No fumódromo, ainda tive a manha de escrotizar com um moleque de uma das bandas que tocaram.. "Ah, vc é fulano, como é o som que vcs tocam?", perguntei educadamente e recebi um "não dá para definir, só ouvindo mesmo", bem blasé, como resposta.. Quem mandou? "Vamos lá, o clichê número 1 das bandas de rock já foi, qual vai ser o próximo? Já não gostei da tua banda, vou perder o meu tempo com quem não sabe nem descrever o próprio som?", alucinei.. Doctor Fróes old school.. E tem gente que ainda tem saudades..
Ainda havia mais por vir.. Landscape, caminho de casa, vamos ver o que rola.. Pista cheia às três da matina (thanks God!).. O DJ (não vão me perguntar o nome nessa altura do campeonato, né?) toca bem (Strokes, Interpol, Lou Reed), surpreendendo às vezes, dando umas apeladas de vez em quando.. Should I stay ou should I go é de fuder, fumo meu cigarro encostado na parede quando uma loira meio paty me pede um.. Como agradecimento, recebo alguns beijos a mais e um "que delícia o seu perfume".. Ela some e reaparece na pista.. Sem pedir muita licença, ataca novamente.. Alguns beijos depois, me apresenta a cunhada (!), diz que o namorado também é DJ, fala algumas coisas sem sentido e vai embora, para depois voltar (?).. Doidivanas!
Não gosto de loiras, mas adoro noites imprevisíveis assim, conhecendo gente, conversando com pessoas interessantes, ouvindo boa música e sendo surpreendido.. Glad to be alive!

2.12.05


Helena, a de Tr�ia..

Da Grécia..

Na noite derrota já descrita, conheci a futura mãe do filho de um brother.. Seu nome é Helena, de pele alva e cabelo em cachos quase infantis.. Na hora me veio à mente a descrição da mulher do narrador do Doutor Fausto (livro que ainda não consegui abordar em sua totalidade nesse blog), de mesmo nome.. Bonita, a passagem, de uma serenidade e sinceridade condizentes ao do personagem-narrador, o doutor em filosofia Serenus Zeitblom, que confessa que Helene, o nome, foi um dos principais motivos para a escolha da mulher como sua cônjuge: "Semelhante nome significa uma consagração, a cujo encanto puro não se nega a eficácia, mesmo que a aparência da portadora corresponda às altas pretensões dele apenas no grau modesto dos padrões da burguesia, e também isso só transitoriamente, devido à rápida marcha dos encantos juvenis". Tomo folêgo para fazer meus comentários sobre a obra (prima).. Em breve..

Uma quinta-feira com a cara do PT: derrota!

Super-derrota

Noite de quinta, dia de balada, seria natural se não estivéssemos em Brasília.. Primeira parada: Gate's e as Superquintas.. É a terceira vez que tento e sempre a mesma coisa: derrota.. Pista vazia, dessas com dez pessoas no máximo, assim não dá.. O som até que era bacana, algo como um minimal electro, tocado por dois sujeitos que não sabiam mixar muito bem.. Mas o Gate's, definitivamente, não combina com música eletrônica, pode reparar.. A nota hilária foi ver as camisetas à venda com a estampa Tranquilo, que já é um bordão ("E aí, Rubens, beleza"? "Tranquilo", ele responde, acentuando o qui com um sotaque meio italiano), do dono do lugar.. Bem, se eu fosse dono do Gate's também estaria sempre assim.. Mas a noite urge e a próxima parada é o Calaf..

É dia de jazz.. Doze contos na porta e uma banda que se esforça para reproduzir o jazz-funk dos anos 70.. O nome? Perguntei pro gordinho, um dos dois (!) baixistas, que não tocava nada e ficava falando besteira no intervalo das músicas, e ele mandou um "não tem nome não, a gente se reúne aí e faz uma jam".. Doze contos por uma jam mal feita, com o som embolado, sem que a banda conseguisse manter o groove, perdida em solos medíocres, é de fuder! E a cerveja (meu Deus, até quando?) quente.. A noite de Brasília é para os fortes que sabem lidar com essas roubadas sem perder o bom-humor.. E aí, o que tem para fazer hoje?

30.11.05


Pedala Dirrrrceu

A bengalada de dios..

No único contato que tive com o famoso Zé Dirrrrceu, deu para sacar porque todos os membros do Conselho de Ética caíram na gargalhada quando ele disse que era uma flor de humildade.. Esse repórter, perdido numa pauta imbecil no Congresso, encontra o ja ex-ministro na lanchonete (comprando trrrrrês paçoquinhas) e tenta o contato. "Por favor, deputado..." "Deputado José Dirceu", foi a resposta arrogante, seguida de um olhar intimidador.. "Ah, deixa esse mané para lá", pensei e fui embora.. Por isso, queria ter sido eu o autor das bengaladas, e não esse velhinho escritor que me lembrou a cara do Tolstoi.. Agora, pior que o Zé é o Aluísio Mercadante.. O dublê de economista e metido a coroa bonitão é mais grosso e estúpido que um coronel nordestino.. Bengalada nele!!

29.11.05


Festival..

Cenas do festival..

* Sábado, festival lotado.. Estava tomando uma com um brother, as mesas lotadas.. Levantei para comprimentar alguém e, quando volto, tem uma menina na mesa que tinha pedido para sentar um pouco.. Ela olha e solta: "conheço vc de algum lugar".. Sim, tinhamos nos conhecido há mais de dez anos num curso de cinema brasileiro.. Me lembrei na hora, pois tinha sido apaixonado por ela numa época em que ter amores platônicos era o meu forte.. Ela lá, tentando se lembrar melhor, solta essa: "Ah, vc se amarra em Beatles, né? Lembrei, vc era apaixonado por eles.." Bem, quase né?

* Outra mesa, outro dia.. Mulher desconhecida, amiga de uma amiga, fica me olhando até perguntar: "Vc não é DJ"?.. Resposta afirmativa.. "Vc já tocou lá naquele lugar, sonho do vale ou coisa parecida?""Empório do vale", respondo, "sim".. "Isso, vc tocou numa festa lá que nós organizamos, de uma clínica X". Meus neurônios, em completa agitação, tentam se lembrar de alguma coisa e... nada! "Pelo menos o som foi legal?", pergunto e ela diz: "Foi ótimo, tinha um cara tocando antes mas só ficou bom para dançar quando vc entrou". Ego satisfeito, continuo sem saber que festa foi essa, se alguém lembrar, me dê um toque...

* Encontro a produtora da festa Frenética, uma daquelas que rolam no subsolo do Dulcina. Ela me chama para tocar, dia 17, na pista rock'n'roll, junto com o Montana e o Cochlar.. Topo na hora, sempre quis tocar lá.. Se tudo der certo, vou encarar uma pista novamente no dia 16 no Landscape (numa festinha do Zeca e do Ed) e, menos de 24hs depois, de ressaca, no Conic.. O finado Pierrot iria ficar contente..

* Falando nele, no curta do Galvão, Uma noite com ela, rola uma citação de Pierrot le Fou, na cena da tesoura.. Bacana, o curta, baseado numa crônica do (hoje) Berna Vertov.. O ator é a cara do Keith Richards, uma justa homenagem.. A cena da trepada na escada, com um jazz comendo solto, a câmera rodopiando, intercalada pela tela escura, é maravilhosa, cheia de tesão.. Um belo exercício de estilo que o público (essa lenda do festival, imbecil por natureza) não entendeu e não gostou.. Puxei os aplausos, que vieram poucos e de má-vontade.. Na mesma noite, Berna Vertov apareceu na tela durante o filme A Concepção, dizendo algo como "psicodelia" ou "lisergia", não me lembro bem, "lisergiado" que estava..

* Encontro um cineasta conhecido, colega de 2º Grau.. Papo vem, papo vai e ele solta: "Nunca vou esquecer de vc falando, já naquela época, que o maior diretor de todos os tempos só poderia ser um brasileiro: Glauber Rocha. Eu nem entendia de cinema ainda e vc já conhecia coisa pra caralho"... Moral da história: não basta entender de cinema, ele virou cineasta, eu não!

28.11.05


Murilo Grossi em cena do filme A Concep��o

Enfim, um filme brasiliense

Doces Poderes, Loucos por Cinema, A Idade da Terra, As Vidas de Maria, O Cego que Gritava Luz, A Terceira Margem do Rio, os filmes do Brazza.. Brasília foi cenário de muitos filmes, mas a cidade que emerge deles não é essa em que eu e você vivemos, é uma cidade tão falsa como um cenário da Globo.. O grande mérito de A Concepção, exibido ontem no Festival, é o de ser o primeiro filme realmente brasiliense, de quem conhece e vive a cidade como nós, tornando-a reconhecível nos seus recortes.. Gate's, Setor Comercial Sul, W4 Norte, Conic, um apartamento qualquer da Asa Sul, a área de serviço de cobogós, a quadra do Piantella, espaços que se integram na narrativa sem que a cidade se torne metáfora, personagem, símbolo das contradições, blá-blá-blá..

É apenas a Brasília cotidiana, cidade difícil de ser amada, de apenas três lugares - "o serviço público, o aeroporto ou o hospício", como diz um dos personagens do filme - "cidade de merda" (idem), palco de nossas (minhas) despirocações.. Brasília dos filhinhos de papai, da maior renda per capita do país, de uma juventude antenada e muitcho loca, um "território livre para as drogas", nas palavras recentes do chefe da Polícia Civil.. Brasília do Superquadra, do Prot(o), da Plebe Rude, bandas que compõe a trilha sonora do filme.. Brasília de verdade, enfim, nas telas..

O primeiro ranheta logo grunhiu: Trainspotting do cerrado.. Seria antes Os idiotas, com a idéia de levar até as últimas consequências uma proposta / estilo de vida contestador.. O moralismo do diretor, entrevisto aqui e ali, não atrapalha o filme (graças a Deus), mais fascinado com as aventuras dos personagens do que preocupado em criticá-los.. Os personagens vivem e respiram (ao contrário de Subterrâneos, o filme anterior de Belmonte, preso nos estereótipos do sindicalista, do evangélico, do gringo).. O cinema brasiliense, enfim, nasceu.. Que nossos cineastas parem de tentar fazer teses sociológicas e voltem suas camêras para os seus/nossos umbigos.. A cidade agradece..

27.11.05


Ruy Guerra, diretor de Veneno da Madrugada

Um belo longa..

Devo confessar que meu conhecimento sobre a obra de Ruy Guerra limita-se aos Cafajestes. Uma falha considerável para quem já viu dezenas de filmes do cinema novo, nem Os Fuzis passaram diante dos meus olhos. Sem nada além da fama do diretor, lá fui eu para o Festival de Cinema assistir ao Veneno da Madrugada, inspirado num romance de Garcia Marques. Fui e gostei..

É um desses filmes que a gente pode abrir mão de tentar entender a trama, no caso, complicada e confusa, nos deixando à vontade para assistir ao filme como um poema, atendo-se à beleza da forma. A construção dos planos, iluminados de forma a criar espaços não-visíveis dentro da cena (cuja lógica cristaliza-se numa construção insistentemente repetida em que a câmera é colocada atrás de uma porta ou janela semi-aberta, criando um quadro estreito dentro do quadro e realçando esse espaço morto) é uma bela trancrição para a linguagem cinematográfica do universo de Garcia Marques.. Nesse universo, os personagens vivem seus dramas num espaço morto, sufocado pelos costumes e pela lógica (oculta) de uma sociedade decadente, cuja razão de ser deixou de existir com a quebra do sistema econômico dos tempos coloniais (marxista isso, hein?).. Sim, o filme é muito longo e chato, mas vale a pena nem que seja para babar na fotografia by Walter Carvalho..

Hoje é dia do filme do Belmonte.. Vamos ver que se ele confirma as qualidades do Subterrâneos.. A conferir..

26.11.05


Thomas Mann e o funk carioca..

A música, essa amoral..

No esforço de livrar minha estante de fantasmas insepultos, me dedico nos últimos dias a devorar o Doutor Fausto, de Thomas Mann.. Há nele um desenvolvimento das idéias já esboçadas pelo personagem Setembrini em A Montanha Mágica: a música é a mais perigosa, pela sua amoralidade, das artes. Pelo seu caráter abstrato, sua potencialidade, sua sensualidade, ela pode se transformar num perigoso questionamento aos valores humanos. Daí a sua proximidade com o diabólico, idéia que o livro vai desenvolver na figura do músico que vende a sua alma ao tinhoso.

Engraçado como, desde Robert Johnson, passando por Jimmy Page e sua adoração a Crowley, Ozzy e seus morceguinhos, até os malucos das bandas death do norte da Europa que botavam fogo em igrejas, o cramunhão ainda está ligado à música. Penso que Mann tinha em mente Wagner e a Alemanha do III Reich (Hitler adorava suas óperas), sendo que até hoje as obras do compositor alemão não são tocadas em Israel. Mas, a acusação à música é reinterada hoje quando deputados e senadores franceses pedem a interdição de músicas de rappers locais que, segundo eles, incentivaram a violência dos distúrbios nos subúrbios franceses. O poder diabólico e sensual, por isso mesmo político, da música (vide o funk carioca) ainda provoca repulsa nos puristas e conservadores. Que assim seja! Aí reside sua força e fascínio, mesmo que seja na violência explícita dos rappers ou na baixaria ignominiosa das Tatis da vida.

24.11.05


Smiley!!!

Everything it's gonna be alright..

Cagaço.. Pessimista, vaticinei: hoje não vai dar ninguém lá.. Dia chuvoso, festival de cinema, não vi divulgação nenhuma nos sites.. A quarta edição do Esquema Lounge, na minha cabeça, tinha tudo para ser um fracasso.. Que nada: justo no aniversário do meu pai (que deu o ar de sua graça por lá) foi um dia de casa cheia, gente chegando sem encontrar mesa, amigos (poucos), mas selecionados, numa noite fantástica.. Zeca, Ed e Dani deram um som bacanérrimo.. Que todas as quartas sejam assim, deixando na face esse sorriso besta de que, sim, estou no caminho certo..

22.11.05


Manderlay e a lind�ssima "who the fuck"

Ele voltou..

Não consigo pensar num nome mais importante para o cinema dos últimos 10 anos do que o de Lars Von Trier.. Quando vi Os Idiotas pela primeira vez, ainda em vídeo, parei a fita por três vezes, sem conseguir suportar o incômodo e a repulsa que a situação do filme me provocava.. Ao final de Dançando no Escuro, fiquei uns cinco minutos atônito, fui para a varanda espairecer, tentar me recuperar do impacto.. Liguei para a minha namorada da época, já tarde, tentando explicar como o filme (que ela não gostara) tinha me afetado e como era do caralho, um dos 10 melhores de toda a história do cinema, blá,blá,blá..

Dito isso, devo confessar que não achei Dogville, tão badalado por outros, o melhor de Lars Von Trier.. O esquema mulher-pura-e-ingênua-se-fode-até-o-fim, utilizado em Dançando no Escuro e em Ondas do Destino, já estava ficando batido.. O fime, no entanto, se salvava na reviravolta do final, quebrando o esquematismo dos anteriores.. Por isso, a estréia de Manderlay me deixou curioso para saber o que faria esse dinamarquês porra-louca e escroto que conseguiu avacalhar com a Bjork e a Nicole Kidman, que não querem vê-lo nem pintado com a cor da estátua do Oscar..

Bem, há algumas mudanças significativas. Sai o esquema ela-se-fode-até-o-fim para dar lugar a um novo, que pode ser definido como mulher-pura-e-idealista-tenta-fazer-as-coisas-certinhas-e-fode-com-tudo. Acho que só em Manderlay saquei como a representação sem cenário era uma consequência lógica da evolução do estilo de Lars Von trier, que realça o caráter esquemático e experimental da situação proposta, provocando um distanciamento a la Brecht. . O fascinante é que o filme nos leva à fronteira do realismo, sem, no entanto, quebrá-lo.. Ok, é fácil ver o filme como uma crítica à ação americana no Iraque (reforçada pela foto do seu Bush no final), mas penso que seria simplista demais reduzi-lo a isso.. É mais interessante pensá-lo como uma subversão, um reflexo invertido do esquematismo hollywoodiano, onde o bem e a vontade de fazer o bem sempre triunfam no final..

E, para amenizar o comentário cabeção, a atriz (não, eu não me importo com o nome de atrizes) é linda, linda, linda.. Não precisa nem dizer que vale a pena vê-lo, né?

Os Donos do Poder

Saudade dos tucanos..

Há tempos me assombrava na estante Os donos do poder, de Raymondo Faoro.. Foi necessário gastar mais de uma semana para devorar suas 800 e poucas páginas, mas me livrei dele.. A idéia central da obra é de que o Estado, desde a fundação do reino português, passando pela sua transmigração ao Brasil, chegando até a Era Vargas, é a besta-fera que, do alto, sempre guiou o destino das duas nações.. Forte, centralizador, opressor, dirigiu a aventura transatlântica e colonizou o país, ávido pelo lucro fácil, consumindo a riqueza obtida em proveito exclusivo dos seus, um parasita que sufocou a iniciativa privada e a formação de uma sociedade emancipada, sempre dependendente e desejosa dos seus favores e privilégios..
É esse mesmo Estado que ainda hoje sufoca o país, arrecadando mais de 35% do PIB em impostos e, oferecendo em troca, ineficiência e corrupção.. Pelo menos os tucanos, em alguma medida, tentaram diminuir a presença do monstro, com suas privatizações e reformas, apesar de terem promovido o aumento brutal da carga tributária.. E o PT, o que fez, o que propôs? Nada: para eles, parece que não há nada de errado com a besta-fera e que bastaria um pouquinho a mais de verbas (contigenciadas pelo seu Palóci) para que ninguém mais segurasse esse país..
Lendo o Faoro, dá vontade de se filiar a um partido liberal, se ao menos existisse um digno do nome por aqui.. O drama atual é o mesmo de séculos: eles só querem cargos, poder, privilégios, um DAS, uma comissãozinha.. Eles não, todos nós, que lotamos os cursinhos em busca do concurso que nos franqueará a entrada para o mundo da estabilidade, dos salários altos e do serviço pouco.. Inclusive eu!

doctorfroes

De volta às pistas..

Foi a segunda vez nesse ano (que me lembre) que toquei numa festinha.. Enferrujado, lá fui eu tentar segurar uma pista de dança a noite inteira.. Quando fui montar o equipamento, saquei o drama: a pista era imensa, ou seja, invariavelmente, ia dar a impressão de estar vazia.. Inseguro, não tive pruridos em dar uma apelada: Cake, New order, The Cure, tudo no começo para chamar o povo... Na primeira parte, me dei bem, já na segunda...
Parei de tocar para que um dos aniversariantes tirasse uma chinfra de DJ... Depois do neófito ter sacado, sem piedade, um Jota Quest (o amor é o calor é o caralho!), dei uma pressionada para voltar... Segurei a pista, fiz uma sessão nacional que empolgou uma galera... Mas, não sei quando, nem onde, nem porquê, fui perdendo a pista, que esvaziou-se completamente quando mandei Even Flow, do Pearl Jam.. Tempos estranhos esses, onde os (poucos) pedidos do público se resumem a forró ou hip-hop.. E eu, um pobre DJ de rock'n'roll, fiquei lá, com cara de otário, sozinho na pista imensa..
Só desejo ao Roriz e a poucos outros seres humanos desse naipe passar por essa situação.. É como se a sua namorada, sem explicações, brigas ou motivos aparentes, te largasse assim, de uma hora para outra... Primeiro, rola a sensação de perplexidade.. Desnorteado, vc tenta entender o que aconteceu.. Depois, vem as tentativas desesperadas de reconquistá-la, atabalhoadas sempre (U2, hip-hop, nacional anos 80), deixando o orgulho de lado e fazendo as mais inverossímeis juras de amor... Nada dá certo, bate a frustração e a sensação de impotência, que desaguam na mágoa e no despeito.. "Ela não prestava mesmo, nem me merecia", o pensamento vem do fundo de mais uma latinha de cerveja (aí vc coloca no som uma música que só vc gosta e conhece, tipo Bersuit Vergarabat)... Ferido, vc nem repara no "novo amor" que surge na sua frente..
"Rola um samba", pediu a menina linda, chapada, que, por pouco, não foi mandada com um pé na bunda direto para o Calaf... Pediu uma, duas, três vezes, sempre recebendo como resposta a amargura e o ressentimento... Mas, rendido pelos atributos inquestionáveis da juventude em flor, acatei o pedido e.. não é que deu certo? O sambinha reanimou o que restava da festa, que terminou com esse DJ completamente chapado pulando ao som de Mombojó e D&B.. "Music is everything", cantava o vocal do velho e bom drum'n'bass.. A minha música, everything de bom, para dançar, é eletrônica.. Não tenho mais o menor saco para as pistinhas rock'n'nroll..