31.12.06

"I'd rather be with Ray"..

Enquanto my brown eyed girl está em Floripa, curtindo suas merecidas férias, me entrego a duas putas mulheres.. Zadie Smith e seu livro, Dentes brancos, preenchem essas horas mortas com um romance multicultural de primeira, o melhor dessa safra paquistaneses-em-crise-vivendo-em-Londres, com boas sacadas que só uma escritora de 24 anos poderia ter (volto a ele em momento oportuno).. A outra é Amy Winehouse e seu segundo disco Back to Black.. Muitas cantoras surgiram nesses últimos anos: Norah Jones, Joss Stone, Madeleine Peiroux.. Todas lindas, perfeitas, pequenas marisas montes a retomar a tradição da canção popular, enfim, um saco!.. Fico com a Amy e seu poderoso e sarcástico refrão - "No, No, No" - como uma lembrança desse 2006 em que me deixei levar por todos os convites que surgiram: o da ex-namorada que voltou, o de ser professor, o de trabalhar no Ministério da Saúde, o de retomar a função de editor numa TV.. Não me arrependo de nenhum deles, mas prefiro tomar as rédeas da minha vida e escolher o que quero fazer, com quero estar, onde quero morar.. E que assim seja 2007: um capricho da minha vontade salpicado por todas as boas surpresas que a vida nos traz.. E que assim seja o ano para vocês também, caríssimos leitores.. See ya in 2007!!

29.12.06

Top Single of the Last Week

A todos os amigos bebuns: abram uma cerveja, relaxem e ouçam a voz de Amy Winehouse, amarga e deliciosa como uma Stella Artois..

http://www.youtube.com/watch?v=LD5sahXoj0U

28.12.06

Por uma vida mais saudável e ordinária..

Acorde cedo.. Relativamente cedo.. 10hs tá bom.. Dê uma olhada pela cortina e veja como está o tempo lá fora.. Vista uma bermuda e camiseta, coloque um tênis.. Não fume.. Coma uma banana.. Saia para uma boa caminhada ao som do disco The Life Persuit, do Belle & Sebastian.. Sinta o calor dos raios de sol que ultrapassam as nuvens.. Pense como deve estar um puta frio lá na Escócia e, mesmo assim, esses caras conseguem fazer essas músicas alegres e fofinhas.. Sinta a vontade de fazer coisas fofinhas como desenhar corações num tronco de árvore.. Reprima a sua vontade.. Continue a caminhada.. Dê uma corrida.. Sinta os efeitos deletérios do fumo no seu fôlego.. Volte a caminhar.. Xingue a patricinha rorizista que não respeita a faixa de pedestres.. Xingue em voz alta.. "Ô, filha da mãe".. Dê uma passada no supermercado.. Compre um saquinho de salada Malunga, 1 litro de leite desnatado, 1 kg de meio peito de frango sem osso e sem pele.. Passe na banca e compre o jornal.. Resista à vontade de fumar um cigarro.. Passe em frente à padaria.. Não compre um cigarro picado.. Tá bom, compre um cigarro picado.. Acenda o cigarro.. Volte para casa e faça um café.. Tome uma água com gás.. Leia o jornal.. Passe os olhos nos títulos das matérias de política.. Leia o artido do Contardo Calligaris, deitado na chaise longue que acabou com o seu saldo bancário, ouvindo MC Sollar.. Fume mais uns cigarros.. Prepare o almoço.. Pense em como se faz um meio peito de frango sem osso e sem pele.. Esqueça o meio peito de frango sem osso e sem pele.. Pegue a caixa de nuggets.. Descubra que você não tem uma travessa para assá-los.. Esqueça os nuggets.. Faça uma salada com alface americana, alface crespa, rúcula, cenoura.. Coloque uns pedaços de peito de peru defumado e uvas passas.. Almoce.. Faça mais um café.. Fume mais uns cigarros.. Tome coragem e comece a arrumar a casa.. Lave a louça.. Varra o chão.. Limpe o banheiro.. Ah, deixe o banheiro para amanhã.. Coloque para tocar o Greatest Hits, do Sly & Family Stone.. Deite de novo na chaise.. Olhe para a caixinha rosa que está na prateleira do rack, aquela que veio embrulhando o CD do Al Green que você ganhou de Natal da sua nova namorada.. Pense em como pessoas apaixonadas fazem coisas sem sentido, como ficar olhando para caixinhas rosas que embrulharam presentes de Natal de namoradas.. Sinta-se feliz por estar apaixonado e fazer coisas sem sentido.. Cante Hot Fun in the Summertime, deitado na chaise, fumando um cigarro.. Sinta vontade de tirar um cochilo.. Lembre-se que você tem que ir trabalhar.. Vá tomar banho para ir trabalhar.. Vá trabalhar..

26.12.06

Da série Roubadas..

* Assumo as pick-ups na festinha da banda cover Cloning Stones.. O começo é bem legal, ninguém quer dançar, então posso soltar as amarras e tocar coisas pouco usuais numa pista de dança: Twice As Hard (Black Crowes), Loaded e Movin' On Up (Primal Scream), The Ubiquitous Mr. Lovegrove (Dead Can Dance), Subterranean Homesick Blues (Bob Dylan), Tomorrow Never Knows (na versão do Violeta de Outono).. A banda é boa e anima os presentes, um público bem variado, com muitos boysinhos malhados e meninas de sainha hippie.. Na última música dos clones, o som vai para o espaço.. Uma gambiarra aqui, outra ali, o som volta ligado nos amps de guitarra... Uma merda, tanto na altura quanto na qualidade.. Perco o tesão, dou piti.. Garcia assume o som e segura a onda com uma sessão de rock contemporâneo.. Volto emburrado, e, quando descubro que a cerveja acabou, tasco Lights, do Sisters of Mercy e acabo com a festa.. Pena, tinha tudo para ser um som bacana..

* Disco Tech - Espaço Galeria, Conic.. Vamos lá dar mais uma chance para o DJ Hopper tentar provar que ainda vale a pena arriscar uma noite com o som dele.. No Way! Se a moda é o minimal, o senhor ganhafoto junta os bracinhos e diz amém.. O minimal pode ser legal, vide Ritchie Hawtin no BMF, mas não essa chatice que sai das caixas, um som flat, sem crescendos, breaks, sem surpresas, que serve, no máximo, para trilha sonora de barzinho descolado.. O público é composto de patricinhas e playbas que parecem curtir o tun-tis-tun sem sal, mas acho que eles estariam bem do mesmo jeito na Trend.. Eu e Paixão (companheira de roubada) ainda tentamos dançar, mas não rola.. Você se contenta com o mínimo? Eu não.. I Want More..

* Bar Concentração, sábado à noite.. Uma cerveja.. Quente.. Um chopp.. Quente.. A garçonete, mal-educada, me ignora.. Quando resolve trabalhar, pergunta: "E aí, vai tomar mais o quê?".. "Eu queria uma cerveja, mas tá tudo quente".. "Fazer o quê, né?", ela vira as costas e vai embora.. Nada pior que garçons desaforados.. Pedir a conta e nunca mais voltar lá, essa é a única resposta possível, não?

25.12.06

For the Godfather of the Soul..

Sincronicidade, diria Doctor Jung.. Acordo no dia de Natal e, para acompanhar a leitura diária do jornal, coloco para tocar o Live at the Apollo, vol. 1.. Somente à tarde, ao chegar a redação, descubro que James Brown Is Dead..

The Godfather of the Soul, o inventor do funk.. Lembro da emoção de ter encontrado, num sebo de São Paulo, a caixinha quádrupla Star Time, minha introdução ao universo do Soul Brother Nº 1.. Todo mundo sabe quem é o cara, mas poucos param realmente para ouvi-lo.. Esqueçam Sex Machine e I Feel Good.. O melhor do funk do The hardest work man in show business é paranóico, repetitivo, quebrado, nada palatável.. O hip-hop e a música eletrônica estão contidas ali, embrionariamente, nas suas células rítmicas em loop.. Ouçam Get Up, Get Into It And Get Involved, a minha favorita, sete minutos de pura combustão política-musical que dá aquela vontade de sair para a rua e quebrar tudo, assim como fazem White Riot, do Clash, ou Fight The Power, do Public Enemy..

E, se ficou famoso como o inventor do funk, Brown também era um puta cantor de soul, como é possível ouvir no lendário Live at the apollo, injentando o que Iggy Pop definiu como raw power em baladas açucaradas.. Os 10 minutos de Lost Someone são mágicos, com os improvisos vocais de Brown levando o público (e o ouvinte) a um frenesi catártico..

A obra do Mr. Dynamite é vasta e irregular, mas versátil.. Há a trilha sonora estilo blaxpoitation de Black Caesar, o crooner de Gettin' Down To It, e os ritmos latinos que pipocam aqui e ali por entre funks e proto-discos do álbum Hell.. Rest in Peace, man!

21.12.06

Ascension..

"Eu aceito".. Ela respondeu assim, de sopetão, à pergunta da noite anterior, enquanto parecia brincar na coluna de fumaça do Anish Kapoor, tão linda num vestido branco.. E eu me dissolvia no instante daquele beijo.. Sem passado ou desejo, totalmente entregue, eu era efêmero e maleável como as formas que surgiam da intervenção dos braços dela no espaço.. Não houve porquês, contratos, exigências ou promessas, como deve ser tudo o que pertence à dimensão totalitária da alegria..

13.12.06

Sábado à noite, show do Superquadra (parte 2)




Tinha tudo para ser uma das melhores noites de rock'n'roll do ano de Brasília.. Era o lançamento do aguardado primeiro disco do Superquadra.. Para os padrões locais, era uma super-produção: uma banda de abertura de fora (Binário, do RJ), vários DJs, instalações artísticas, VJs, equipamentos de som de primeira.. Saiu em todos os jornais, com divulgação maciça na internet.. Local: Arena.. Preços acessíveis: 10 conto.. Noite de verão sem chuva..

Foi o fiasco do ano, talvez da década.. O disco, Tropicalismo Minimal, não ficou pronto à tempo.. Público contado nos dedos: 47 (o que incluía membros da banda).. Público estimado total: 60 pessoas.. Fiquei até com a consciência pesada por ter arrastado um brother para lá, logo ele, que odeia bandas nacionais.. "Mal aí", diria Esquilo, o companheiro do Overman..

O Binário abre o show: são 3 guitarristas, 2 bateristas, 1 baixista e 1 tecladista/outras cositas eletrônicas (formação um pouco exagerada, merecia um choque de gestão).. Banda interessante, na linha psicodélico com sacadas eletrônicas.. As guitarras descem bem.. Algumas letras se salvam (um pouco superior à média).. Eles até tentam disfarçar: "Valeu Brasília", solta o vocalista algumas vezes..

É a vez dos anfitriões: 1,2,3,4, começa a primeira música e... A luz acaba! Volta, outra música e... De novo! Mais broxante impossível.. Estamos lá, a banda e o público, apenas por consideração à algo que deveria ser e não foi... As poucas dezenas de testemunhas assistem ao show sentadas no chão, anti-clima total.. A apresentação é curta, o bis vem de má-vontade.. Ao final, preciso desabafar... Encontro o Cláudio Bull (o vocalista).. "Só queria te dizer uma coisa, brother: Brasília não merece o Superquadra"..

Sábado à noite, show do Superquadra (parte 1)

(No Caixa)
- Eu quero uma vodka...
- A gente não vende vodka.
- Mas, vocês vendem Hi-Fi, não?
- Vendemos sim...
- Então, eu pago, mas quero só a vodka...
- A gente não vende vodka.
- Então me vê um Hi-Fi..

(No balcão)
- Brother, me vê uma vodka..
- A gente não serve vodka..
- Mas vocês não vendem Hi-Fi? Então, é só fazer um Hi-Fi sem Fanta..
(consulta o gerente)
- Não, a gente não serve vodka..
- Então faz o seguinte: me traz a dose de vodka e a fanta que eu mesmo misturo, ok?
(consulta o gerente novamente)
- Não dá..
- Caralho, me traz só a porra da vodka.. Não fode!!
(troca de olhares entre o atendente e o gerente)
- Desculpa, eu sou novo aqui, é o meu primeiro dia.. Vou trazer para você.. Quer gelo?
- Sim.. Valeu, brother..

9.12.06

Mandando V..

"O celular toca e a música tema é We will rock You, do Queen. Quem atende é um "senhor" de 50 anos, camisa preta, botas da mesma cor e jeans. Nos dedos, três anéis prateados. No antebraço, tatuagem e munhequeira de couro. No rosto, o indefectível bigode que, junto com os longos cabelos, apresentam aqui e ali as marcas enbranquiçadas da idade. A semelhança física com lemmy, o lendário vocalista da banda Motorhead, salta aos olhos. No meio rock'n'roll de Brasília, ele também é uma lenda, conhecido pela alcunha de Marcão Adrenalina"

Esse é o abre de um perfil que fiz do Marcão, morto hoje. Definitivamente, ele era um cara bacana.. O rocker safra 60/70 por excelência.. O que mais me impressionou nele foi não ter parado no tempo musicalmente, se esforçava em ficar ligado no que acontecia de novo.. Manda ver, brother, onde quer que você esteja.. Deixo aqui duas frases dele que saíram na matéria:

"O mundo não anda para trás, odeio aqueles caras que ficam só falando de Stones e Led Zeppelin e de como no tempo deles era legal"

"Um menino de 16 anos tem mais liberdade que um homem casado: pelo menos chega em casa de madrugada e não leva esporro"

8.12.06

A house is not a motel (e vice-versa)

Guará, 4 da matina.. "Oh, fuck!", pensei.. No dia seguinte, teria que estar cedinho na faculdade.. O Plano Piloto e quase todo o Lago Norte me separavam de casa.. Ir, dormir e voltar tudo de novo.. Tive então uma idéia brilhante: vou dormir por aqui mesmo, num desses motéis..

Posso me considerar um profundo conhecedor desse tipo de estabelecimento em Brasília.. Um pouco por vivência, muito por motivos profissionais: uma reportagem para a Revista do Correio com o ranking dos melhores motéis da cidade.. Para definir qual era o melhor lugar para se passar uma noite pouco católica, fui escrupuloso, elaborando uma tabela com vários itens a serem avaliados, como limpeza, cardápio, conservação, equipamentos, com notas de 1 a 5.. Visitei mais de 10 motéis, sempre incógnito, para não dar chance aos estabelecimentos de falsear a realidade.. Chegava às suítes e conferia o frigobar, procurava manchas nos lençóis, cabelos na banheira, opções de canais na TV.. Foi um trampo e tanto.. O rigor científico indicou o Flamingo como o melhor, mas o meu preferido foi o Playtime, de Taguá (deu (ops!) vontade de morar na suíte japonesa do lugar)..

Mas não lembrei de nada disso e entrei no primeiro que surgiu no Núcleo Bandeirante, o Park Way (de razoável para bom) .. Confesso que não sou fã de motéis, apesar de achar que, às vezes, eles fazem bem para um casal imerso na rotina.. Um banho de banheira, uma iluminação bacana, o próprio fato de estar num lugar diferente fazem efeito.. Mas detesto aquelas decorações pseudo-sensuais e gostaria que tivesse a opção "espelho/sem espelho" para que pudéssemos escolher..

(top 5 músicas de motel:
1 - Hotel California - Eagles
2 - Sexual Healing - Marvin Gaye
3 - Justify my love - Madonna
4 - Fogo e paixão - Wando
5 - Patience - Guns 'n' Roses
obs: Je T'Aime Moi Non Plus não vale!)

Bateu uma sensação estranha, de solitude, deitado ali na pequena cama-redonda.. No espelho, apenas me, myself & I.. Num quarto de motel, tudo indica a ausência de um outrem.. A estranheza virou conforto e a vontade de ir morar sozinho, idéia que, parece, fincou raízes..

Poucas horas depois, na saída, a lei de murphy mostrou o seu lado implacável.. La cuenta! BB débito? Não-autorizado! (a porra do cheque não foi compensado).. BRB débito? Saldo insuficiente! (caralho, transferi ontem todo o dinheiro para a aplicação).. Ah, tem o crédito, porque a vida é agora.. Não-autorizado! (puta-que-pariu, dona Visa, explique-se).. Thanks God pela falta de companhia..

6.12.06

Madame Bovary e os beijos roubados..

Confesso que o realismo de Flaubert não me conquistou de cara.. E a sua tão propalada escrita perfeita não surge de imediato na tradução.. Mas, com um pouco de persistência, a história engrena.. E vão surgindo os tipos tão bem delineados pelo escritor naquela triste aldeia de Yonville: Humais, o farmacêutico medíocre e puxa-saco; Rodolphe, o amante aproveitador e cínico; Charles, o esposo tapado e acomodado; Lheureux, o comerciante filha-da-puta e traiçoeiro..

Cercada por essa gente, a pobre Emma Bovary vai em busca de seus sonhos românticos que vão terminar em tragédia.. Quem nunca teve seus dias de Madame Bovary? De viver 24 horas por dia em função de uma paixão desmedida, sem ligar para dinheiro, para o que os outros vão dizer, para o trabalho e a rotina? Sua história é um alerta, um chamamento à realidade, mais do que uma censura pelo seu comportamento.. Mas é impossível não se apiedar da sua trajetória.. Ela, pelo menos, tentou viver além, não se conformou e pode sentir os prazeres dos tais beijos roubados..

Duas cenas me marcaram: a primeira é a do dia da exposição de animais na cidade, onde vão se revezando o discurso do representante do prefeito sobre trabalho, os deveres dos cidadaõs etc.. e as cantadas de Roberth fazendo juras de amor à Emma.. A construção ressalta a diferença entre o mundo real e o romântico, ao mesmo tempo que aponta para a falsidade das duas falas.. A outra é a da divertida discussão entre Humois e o padre Bournisien sobre religião no quarto em que se encontrava o corpo de Bovary (sim, ela se mata no final), cena que faz saltar aos olhos a insensibilidade e a mesquinhez desses personagens..

Fiquei com vontade de reler Anna Karenina e fazer a comparação entre duas das mais importantes personagens da literatura universal.. Deixo aqui duas citações de trechos do romance que, na minha opinião, exemplificam bem o estilo de Flaubert:

"A palavra humana é como um caldeirão fendido em que batemos melodias para fazer dançar os ursos, quando antes queríamos enternecer as estrelas"

"Tudo mentia! Cada sorriso ocultava um bocejo de enfado, cada alegria uma maldição, todo prazer o seu desgosto, e os melhores de todos os beijos não deixavam nos lábios senão uma irrealizável ânsia de voluptuosidades mais intensas"

4.12.06

Fogo & Gelo..

Domingão, dia de tomar uma com os meus dois melhores amigos.. Somos todos com quase trinta.. A diferença é que sou o único solteiro da mesa.. Eles, casados, fazem planos de construir casas e tal.. Quanto a mim, apenas canto com o Macal... Há todo um mundo lá fora:

"As coisas passando eu quero
É passar com elas eu quero
E não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro
e a marca de um abraço no seu corpo
Não, não sou eu quem vai ficar num porto chorando, não
Lamentando o eterno movimento dos barcos"

P.S: Saldo da noite: um pé torcido na escada do Beirute, três dias de molho, compressas de gelo de 2 em 2 horas..

2.12.06

Madame Bovary et moi..

Sábado à noite, um programa casalzinho.. Convido Madame Bovary para dar um pulo ali, na Quituarte, num restaurante japonês.. Um misoshiro aplaca os efeitos deletérios da noite passada, que começou no Rayuela, passou por alguns copos de chopp no aeroporto, revisitou o antigo Barrigudo's (agora Manara) e terminou (ufa!) no 2º Clichê.. Shitakes na manteiga caem bem enquanto ouço Emma contar sua história de um casamento sem amor, dos dias ordinários entregues à mesmice de uma cidade do interior, de uma vida tão monótona que se torna possível contar nos dedos de uma mão os lugares diferentes em que ela passou ao menos uma noite.. Não censuro seu desejo de experimentar os prazeres de Paris, da corte, dos bailes, de viajar pelo mundo.. E nem os seus sonhos de paixões intensas e ideais como as vividas pelos personagens dos romances românticos do século XIX.. Pobre mulher! Espero que um dia ela conheça as delícias de sentir a face enrubescer por causa de um beijo roubado..

30.11.06

Trialidades (ao som de Van Morrison)..

Te gustas Freud ou Jung?
Jogue as cartas: quer saber do passado ou futuro?
Conceitos mil: compulsão à repetição ou processo de individuação?

Quanto a mim, fico entre o
Sha La La La La La La La La Sha La De Dah
e o
Dang a Lang a Lang Dang a Lang a Lang a Lang Dang

Um presente, o presente, me bastam...

28.11.06

Crítica besta..


"Um soco no estômago"... "Um retrato nu e cru da realidade"... Qualquer um desses chavões pode ser usado para falar do novo filme do Claúdio Assis, Baixio das Bestas... As críticas vocês podem ler em qualquer lugar que esteja cobrindo o Festival de Cinema de Brasília... Eu só quero deixar um registro: tenho pena desse que é um dos mais talentosos cineastas da nova geração... Ele olha para o mundo e não consegue ver nada além da miséria, da crueldade, da podridão humana... Parece acreditar que, após Auschwitz, não é mais possível escrever poesia... E seu filme não serve para nada, nem como reflexão, nem como denúncia... É reacionário pois acredita que as coisas são assim e assim permanecerão sendo, sem redenção nem possibilidade de mudanças... É, enfim, anti-humanista...

P.S: "O filme é do caralho"

27.11.06

Amassando barro..

A cena eletrônica de Bsb, há tempos, anda uma merda... Poucas festas, poucas atrações de fora, nem o BMF tivemos esse ano... Somente o trance (mais especificamente, o psy) parece estar à salvo da crise... E lá se foi o Doctor Fróes, em pleno domingo, conferir o que anda rolando nas raves candangas...

Não estava escrito no convite mas, para entrar, era preciso estar trajando uma bermuda estampada, usar correntes grossas no pescoço (um colar de feira hippie também servia), ter quinze anos de idade ou o tempo equivalente em academias de ginástica trabalhando seus músculos... Para as mulheres, bastava uma micro-saia, botas-plataforma e decotes, generosos decotes (com as indefectíveis barriguinhas de fora)... A testosterona em excesso provoca efeitos colaterais como: 1) brigas; 2) aquele clima de azaração à la Micarê...

Estamos todos aqui para ver o Skazi, a estrela do psy... Mas, antes que o israelense assuma as CDJs, chama a atenção a "qualidade" da produção... A iluminação é fraca, pobre que só ela... Alguns muitos reais a mais me dão o direito ao camarote... Ser VIP aqui é ficar na LATERAL do palco, ATRÁS das caixas de som, enquanto o bar com as bebidas liberadas está longe, muito longe, e para se chegar lá é preciso percorrer tortuosos caminhos que incluem duas escadas (uma delas foi fechada no final da noite sob risco de desabamento)... Genial, não?

Antes da estrela da festa, aquela picaretagen típica dos DJs de psy, vinda de um sujeito mais preocupado em esvaziar uma garrafa de Ballantine's: uma música atrás da outra, sem mixagem, afinal, é tudo igual mesmo, a cavalaria que nunca chega, não é? Graças a Shiva que não...

Skazi, o cabeludo tampinha com pinta de pop star, sabe tocar, e dosar o seu set: algumas músicas tem os timbres típicos do techno do começo da década de 90, à la Altern 8 (reconheci o sampler de uma música antiga pacas chamada James Brown Is dead)... Há também algumas versões psy para outras coisas (rolou até um Placebo, mas não lembro qual)... E tem os hits do cara, como a versão para Out of Space (a do Prodigy é melhor, mas a do Skazi é bacana também) e Hit & Run...

Foi o suficiente para eu me acabar de dançar, "embalado" pela chuva que transformou tudo numa lama só, mas que foi insuficiente para gelar os ânimos... Na sequência, Ricca Amaral tocou um som mais dark, mais viajante, sem cair na mesmice... Nem um cigarro conseguia acender mais, encharcado... Mas ficaria lá amassando barro, feliz, por mais algumas horas caso o som não tivesse sido desligado antes das 23hs, provavelmente por causa da chuva intensa... Acho que a água levou embora um pouco do preconceito que eu tinha, o "elitismo" bobo de quem sempre quis estar no underground... Afinal, o importante é fechar os olhos e se jogar, não é? ... Quando é a próxima mesmo?

P.S: Blue Monday, me arrasto para o trabalho, o corpo dói, o banco do carro ainda está molhado... Mas o gostinho de quero mais continua...

25.11.06

Music & Wine..




Deve ser o efeito da releitura do Alta-Fidelidade... Há dias uma coletânea dupla da Aretha Frankilin não para de rodar no meu aparelho de som... Engraçado, não sou um cara que vai atrás da música pop perfeita, meu negócio sempre foi mais, hum..., "vanguarda"... Deixa eu tentar explicar: no rock'n'roll, acho que existem três tipos de pessoas: aquelas que preferem, Beatles, Stones ou Velvet Underground...

Me incluo na terceira categoria, o que define, por exemplo, o fato de nunca ter me ligado muito nas grandes cantoras de jazz ou em coisas como Oasis e o hard rock: sinto falta da experimentação, do ruído, da transgressão, enfim, daquilo que Lou Redd e John Cale ensinaram aos Stooges, à Patti Smith, ao Bowie e, por tabela, aos punks, pós-punks e por aí a fora... Por isso gosto de Bauhaus, Nick Cave e otras cositas que as pessoas, em geral, abominam...

Em contradição, desde os 15 anos sou um apaixonado por soul music... Na minha lista de 10 grandes discos de todos os tempos, não poderia faltar What's Going On, do Marvin Gaye... E muito menos The Dock of the Bay, do Otis Reeding... Al Green estaria bem cotado também (lembro que fiz até uma festa com o nome de uma canção dele: Love & Happiness... Foi um fracasso tão grande que recebi até ameças de ser esfaqueado por um coroa cabeludo que queria que eu tocasse Deep Purple, mas resisti bravamente :]...

Confesso que ignorei esse tempo todo a Lady Soul... Sorte que o tempo redime os pecados e estou pagando esse feliz, de joelhos ao pé daquela que ensinou às mulheres, ainda em 1967, a exigirem Respect... Basta ouvir Day Dreaming, o melhor deep house já feito, 2 décadas antes que o estilo fosse inventado... "Hey baby / let's get away / let's go some place, huh? Where? I don't care"... Aretha cumpre o que promete e makes your mind floats away... Para onde? Não sei, mas eu queria dar uma passada lá num sábado à noite com uma garrafa de vinho...

24.11.06

"Pequenas doses de alegria e prazer"


Corrientes 348 or something... 2º Clichê... Otello... Eu e Paixão pagando de drag ... Amigos são prioridade, sempre... Será tão difícil entender isso?

19.11.06

Movin' On Up..

Nação Zumbi na UnB.. Teenagers, freaks e marombas garantem um bom público.. Antes que os tambores do Casa de Farinha comecem a esquentar, corro para a tenda eletrônica.. Oblongui e seu sensual house estão lá, fazendo bonito.. Bom gosto e músicas sem afetação me fazem até esquecer que nem sou chegado assim em house..

Começa o Nação.. Jorge Du Peixe nem é desafinado como imaginava, segura os vocais sem problema.. O set-list privilegia músicas do novo disco Futura e daqueles gravados já sem o Chico Science.. Tudo muito ok mas, sorry, eu quero mesmo é me acabar de dançar.. Largo os mangue boys no palco e vou ver Isn't e The Six.. Expectativa: nossos últimos encontros foram marcados por desconfiança e decepção..

Os enfant terribles da cena eletrônica candanga agora tocam de laptops.. Com isso, perderam o lado performático que era um de seus diferenciais.. As "não-passagens", o corte-seco e arbitrário entre uma música e outra foi substituído por uma mixagem meia-boca feita pelo computador.. Definitivamente, eles não tem a manha para isso..

Mas, tudo isso fica em segundo plano por conta do novo set deles.. Saíram os electroclashs e bootlegs que já haviam torrado a paciência de qualquer um e que transformava qualquer festinha em pista da Garagem.. Um mix de breakbeat, electro e minimal techno - sem frescura, sem vocais, sujo e pesado - fizeram a alegria desse pobre corpo sedendo de movimento.. Só não foi perfeito porque a cerveja acabou às 4 da matina e, às 4:30, acenderam as luzes da pista.. Deve ser porque os alunos da UnB tem que acordar cedo para pegar uma "cachu" no dia seguinte..

Little Fluffy Clouds..


Curto um final de tarde no CCBB, momento especial para quem tem passado os últimos muitos meses enfurnado numa redação ou num ministério.. Exposição do Anish Kapoor, vale a pena, mas não recomenda-se o uso de psicotrópicos, já que a experiência sensorial provocada pelas obras já é forte o suficiente para alterar seu estado de consciência.. Deitado num banquinho do jardim, fico tentando lembrar de algum célebre poeta que tenha conseguido descrever as nuvens.. Só penso em algodão-doce.. No máximo, generosas porções de chantilly..

Concorrência desleal..

tatuagem da concorrente ao mestrado em comunicação..
se todos os que fizeram a prova forem fanáticos assim..

15.11.06

Sol, eu quero ver o nascer do sol..

I fell in love one day..

Há algo de muito errado com você quando, ao acordar, uma antiga música do Raul Seixas te vem à cabeça.. "Nada me interessa nesse instante", nem o estúpido VT sobre o pacote fiscal do governo, nem a sua repórter na TPM, you don't give a fuck.. E quando você para pra assistir ao sol nascer, sente como se a Bomba H estivesse caído bem aqui, nesse feliz rincão do Lago Norte... "Quando o calor do beijo seu / que procurando o meu / parecia pedir perdão pelo egoísmo".. Esse foi o seu sonho da noite passada.. O mundo parou, e ele é todo seu.. Enjoy!

14.11.06

Uh-uh-uh-uh-uh..

Run (não, eles não tocaram nada do Technique).. Corre, Dr. Fróes, o show já começou.. Perco as duas primeiras músicas, mas nada grave... Chego a tempo de ouvir Ceremony.. Nilson Nelson cheio, a qualidade do som é aquela clássica: uma maçaroca sonora onde não se escuta, adivinha-se as músicas.. Bernard Summers reclama um monte, com razão..

Ele é o típico gordinho tímido, um cara que apresenta assim a música título do novo disco: "it's about the sea".. O único vocalista que já vi em cima de um palco cantando com a mão no bolso.. Sem a guitarra, não sabe o que fazer.. Dá para entender o som da banda pela personalidade de seus músicos.. Peter Hook é a estrela, poser pacas.. Faz cara de mau, anda pelo palco, aponta para o público.. É o baixo que define as músicas, privilegiando sempre as notas mais agudas, enquanto a guitarra de Summers preenche os espaços, discreta e delicada..

As músicas do disco novo não empolgam.. Nas do Joy Division, fica impossível não pensar na ausência de Ian Curtis.. Summers ainda grita "DANCE" em Transmission, mas não há aquela angústia e desespero em sua voz.. Paralisado ao som de Atmosphere, por alguns instantes sinto um frio percorrer a espinha, conseguindo penetrar no vazio da sonoridade da banda de Manchester que morreu com o seu vocalista..

Mas, por que diabos eles agoram tocam músicas do Joy? Quando estavam no auge, era proibido até tocar no assunto em entrevistas.. Decadência? Não sei, mas é quando eles emendam os hits
True Faith - Bizarre Love Triangle - Temptation - The Perfect Kiss - Blue Monday, que vem a certeza de que eles não precisavam disso.. Durante essas cinco músicas, eu (e milhares de pessoas) fomos felizes, fechamos os olhos, cantamos uh-uh-uh-uh-uh em Temptation, ensaiamos passinhos, gritamos ao ouvir as batidas clássicas de Blue Monday e esquecemos o quão batida é Bizarre Love Triangle.. Não gostei do biz, nem de Love Will Tear Us Apart, mas já não importava mais.. Já havia valido a pena..

9.11.06

Arrependei-vos!!

Enfim, o messias..

Diálogo entreouvido na discoteca 2001:
- Você viu? O João Gilberto teve um filho..
- Sério?
- É, e ele tá com 75 anos..

7.11.06

True Faith..



Fetiches da velha ordem..

Era um objeto inacessível.. A capa branca minimalista, estilo Factory, o disco duplo.. Um amigo da minha irmã estava com ele, mas não quis emprestá-lo.. Eu tinha 12, 13 anos e esse cara era o máximo do cool para mim: repetente, fumante, estava sempre usando o redley e a mochila da Company preta, clássica.. Substance: todos os hits estavam lá, aqueles que animavam a Serestinha, a festa mensal que rolava na igreja do lago norte.. Santa alma cristã aquela, que permitiu os primeiros embalos da adolescência regados a guaraná, pipoca, cachorro-quente, música lenta e as onipresentes Bizarre Love Triangle, The Perfect Kiss, True Faith.. Não achei para comprar, tive que me contentar com o Technique, comprado lá na Sears, meu disco favorito deles até hoje..

Joy Division veio depois, com 15 anos.. Era aniversário de uma amiga, com quem começava a descobrir os clássicos do pós-punk e do rock.. Comprei o Still (capa cinza, também minimalista) para ela e ainda levei um Black Sabbath para mim.. Ian Curtis bateu, forte e a amiga acabou sendo presenteada com um clássico do heavy metal.. A minha banda se chamava Dead Souls, faixa 9 do CD..

Veio o Closer, vinil, comprado num sebo.. O disco não identificava os lados 1 e 2, mas, sempre, sempre que era colocado na pick-up, começava por Heart and Soul.. Nunca entendi isso.. Essa pequena magia deve ser responsável por, até hoje, nunca ter comprado a versão em CD..

Eu amo essa merda de cidade..



O eterno retorno (ou ziggy's playing at my head)

Sou eu de novo aqui, na Praça dos Três Poderes.. E a dúvida me atormenta: por que as mulheres não gostam de David Bowie? A chuva ameaça, a garoa cai... "Time takes a cigarette, puts it in your mouth".. Comprei esse disco com 15 anos.. Pulo de banco em banco como Val Kimer pagando de Jim Morrison, rider of the storm.. "You're too old to lose it, too young to choose it".. São quase 30.. Adoro Balzac, O pai Goriot.. Eu canto sim, nessa praça deserta.. Sou brasiliense, caralho, isso aqui me pertence.. Cha-cha-cha-cha-cha-chances.. O eterno retorno do Thin White Duke, "throwing darts in lovers eyes".. Eu, cego, mando torpedos.. "For my love is like the wind / and wild is the wind".. Tenho 18, 23, 25, 29 anos.. Prazer vê-lo novamente, Henrique... Are you a rock'n'roll suicide?

P.S: "Sexta agora, o New Order vai tocar Cerimony... Provavelmente também, Age of Consent.. Há chance deles tocarem Transmission.. Para mim, basta.."

5.11.06

não é só o Collor que tem aquilo roxo..

O novo do Caetano e o Superquadra

É fácil falar mal do cara, aliás, eu mesmo sou um adepto do nobre esporte de descer o cacete nele.. mas a curiosidade das boas resenhas me fez baixar (fala sério, ele não merece meus 40 contos) o novo disco chamado Cê.. E, vai saber se é por um momento particular, gostei... Ok, não é esse rock'n'roll todo, e a música de trabalho (Rocks) é uma merda.. Mas algumas músicas são tão cheias de tesão e libido que fica difícil não gostar.. "Mau como um pau duro" é esse Caetano, no auto-retrato da primeira música.. Vamos combinar que nesses tempos de acepcia hermaniana é um mérito e tanto.. Minha preferida é Homem: destenhando das qualidades femininas, como maternidade, sagacidade e fidelidade, ele arremata no refrão. "Só tenho inveja da longevidade/ e dos orgasmos múltiplos/ e dos orgasmos múltiplos/ eu sou homem/ pele solta sobre o músculo/ eu sou homem/ pêlo grosso no nariz".. Viva!!

Há tempos quero escrever algo sobre o show do Superquadra que vi na sala Martins Penna (deve ter uns dois meses).. Eu ainda me sentia meio viúva do Divine, mas, enfim, rolou a redenção.. O Cláudio Bull estava enfurecido, tendo como pano de fundo imagens disformes de gordos nus (salvo engano) da Louise Bourgeois.. Pensei num texto que começasse assim: "muitas bandas falam de garotas; outras, de trepadas; amor é tema fácil, batido, mas ainda assim o preferido. Mas só o Superquadra fala sobre o DESEJO".. Perdi o resto do texto nesse meio tempo e fico esperando o disco novo e os shows de lançamento para tentar reescrevê-lo.. Uma amiga ouviu algumas músicas no myspace (http://www.myspace.com/superquadra) e comparou ao Capital Inicial.. Achei engraçado, mas tem um fundo de verdade.. O Claudio Bull é o Dinho Ouro-Preto que saiu da punheta e sabe que a verdade é má como um pau-duro..

15.1.06

Break

Sumi, né, eu sei.. Sorry.. Tem coisas demais acontecendo na minha vida.. Pode ser a lua cheia ou "o ano dos capricornianos regido por Saturno", ou coisa parecida, que ouvi por aí.. Estou sem inspiração, por isso volto quando toda essa loucura acabar.. See ya!

3.1.06

Victorialand parte 5

Antes que me assemelhe a um camarão descascando, dou um tempo na praia e tiro o dia para conhecer a simpática cidade de Vitória.. Limpa, bem-conservada, a capital capixaba peca no extremo mau-gosto de sua arquitetura: as sedes do Tribunal de Justiça e da Assembléia Estadual, vistas na chegada da cidade, são prédios feios de doer.. Uma passada pelos sebos do centro rendem discos do Hyldon (Deus, a natureza e a música), do Theddy Corrêa (Loopcínio) e do Bloco Vomit (Never mind the bossa nova..) a preços módicos..

No roteiro, o Teatro São Rafael, prédio do início do século passado, com três andares de galerias e detalhes em art déco e art nouveau.. Em frente, uma aconchegante pracinha chamada Costa Pereira.. No Museu de Arte do Espírito Santo, a exposição Escultura brasileira - do bronze à dimensão planar.. Duas peças me encantam: Portadora de perfumes (1923), de Victor Brecheret, e Menina e moça (1914), de José Otávio Correia Lima: a primeira é imensa, deve ter uns 3m e é de uma perfeição clássica.. A segunda é meio diabólica, de cerca de 1,20m, uma menina com cara de danada que, de tão perfeita, parece que vai sair andando..

O percurso continua: Palácio Anchieta, sede do governo meio sem graça, Parque Moscovo, pequeno mas simpático espaço concebido no início do século XX.. Para babar mesmo, a Catedral Metropolitana, uma imensa igreja em estilo gótico, com torres pontiagudas e tudo, mas cujo interior é simples, sem aquela pompa e riqueza que encontramos nas igrejas baianas ou pernambucanas, mas onde se destacam os lindos vitrais multicoloridos.. Uma cidade que vale a visita..

Victorialand parte 4

Seguindo o ditado de meu pai - "visita é como peixe na geladeira, depois de três dias começa a feder" - deixo o apartamento de minha amiga e me mudo para um albergue no Coqueiral de Itaparica.. O quarto tem o essencial: duas camas estreitas, uma micro-televisão e um banheiro.. O café-da-manhã é dispensável: margarina e suco Tang que só são servidos até as 9 da matina.. O albergue fica a dois quarteirões de uma praia bem popular, mas que é bonitinha e tem água limpa.. O bairro hospeda a putaria de Vila Velha, um passeio pelas redondezas confirma: boate Scorpions, Karokê 20 Cantar (olha que nome sugestivo), vários motéis baratos e uma Assembléia de Deus para salvar a alma das jovens pecadoras.. Pedro Juan Gutierrez iria adorar!! Mas há tudo o que um homem precisa no quarteirão: um supermercado, uma padaria com café expresso e uma Lan House..

Reencontro com um antigo amigo: o cara é um ex-punk, fanático por Smiths, que se converteu ao islamismo, além de ser procurador da prefeitura de Vitória e usar um cachimbo na tentativa de parar de fumar.. Ele me leva para jantar, junto com a esposa, na Barra do Jacú, uma praia próxima de surfistas.. O lugar se chama Esperando-Maré e nos servem um talharim com frutos do mar divino: só eu comi três lagostas e muitos camarões rosas.. Muito mais do que o sabor, é a sensação de poder e a pouca frequência em poder degustar essas especiarias que fornecem a magia do prato.. Bom demais para um pobre desempregado!

Começo a me embrenhar nas páginas de No caminho de Swann, o primeiro de Proust da série Em busca do tempo perdido.. É uma escrita nem sempre palatável, mas da qual emerge um carrosel de sensações guiado pela memória do narrador-personagem, que se deixa levar por uma espécie de associação livre.. Não dá vontade de largar..

2.1.06

Victorialand parte 3

Já foram três as vezes em que toquei por aqui.. Uma roubada pior que a outra.. A primeira foi há uns dois anos, num lugar bacana chamado Pub.. Éramos três: Taylor, eu e uma mocinha de Sampa.. O DJ nativo mandou super-bem, rock alternativo, dando a deixa para a minha sessão de electro e electroclash.. Quando subo para a cabine, a descoberta: o fone não funcionava e o mixer, mal e porcamente.. O desespero foi completo.. Toquei no escuro e a pista nem entendia direito o que era aquilo que saia das caixas, muitos achavam que era funk carioca.. Nada me restava a não ser encher a cara e pular junto.. No final, tudo deu certo e fui até aplaudido ao passar a bola para a paulistinha meio metida.. Depois me contaram que fui o primeiro a tocar electro por essas bandas.. Pioneirismo é isso aí!

Bem, a noite de electroclash na praia a dois real foi assim: liguei para o produtor e combinamos que eu dar uma palhinha por volta das 10 da noite, quando o público estivesse chegando, e depois voltaria para tocar à meia-noite.. Chego lá pouco antes das dez e descubro que as CDJs estavam em outra festa e só chegariam depois das 1:00.. Um dos DJs me explica que, por volta desses horário, eles normalmente começavam a mandar rock'n'roll.. Ok, tudo bem, pensei, voltei para o apartamento e trouxe os meus CDs de rock.. O lugar era bonitinho, área nobre de Vitória, bom público, apesar de me contarem que, normalmente, enchia mais.. Toca o primeiro DJ (o produtor), as CDjs chegam, toca o segundo, já são mais de duas da manhã e nada de me deixarem entrar.. Começo a ficar meio puto, desrespeito, né? .. Quando o tal do Kalunga começa a esvaziar a pista mandando um d'n'b, perco a paciência.. Aproveito que ele dá uma corrida para o banheiro e assumo, na marra, as pick-ups.. O produtor fica puto.. Mando um pouquinho de eletrônico e parto para o rock na tentativa de segurar o que sobrava da pista, o que consigo parcialmente.. O chato era ter que aquentar, de cinco em cinco minutos, algum tranceiro do inferno perguntando: "e aí, não vai rolar um psy não?".. Meu saco já estava cheio e dou uma despirocada.. O produtore chega, "gentilmente", e me avisa que aquela é a última música.. Quando vou ver, ele já tinha desligado uma das CDJs.. Aí é demais: volto a ligar o equipamento e toco mais um pouco até acabar com a pista de vez.. Ah , e por tudo isso o meu "pagamento" foram duas cervejas.. Demais, né?

Festa de ano-novo , coisa pequena, mais uma reunião entre amigos.. Todos tem direito a um set de meia-hora num equipamento improvisado: um 3X1 CCE, um discman e uma mesinha de som.. Ok, entro no clima e começo a minha parte com um samba-rock para continuar naquele clima festivo de ano-novo.. Três músicas depois, as caixas de som estouram!! Desisto! É melhor ir para a praia..