30.11.05


Pedala Dirrrrceu

A bengalada de dios..

No único contato que tive com o famoso Zé Dirrrrceu, deu para sacar porque todos os membros do Conselho de Ética caíram na gargalhada quando ele disse que era uma flor de humildade.. Esse repórter, perdido numa pauta imbecil no Congresso, encontra o ja ex-ministro na lanchonete (comprando trrrrrês paçoquinhas) e tenta o contato. "Por favor, deputado..." "Deputado José Dirceu", foi a resposta arrogante, seguida de um olhar intimidador.. "Ah, deixa esse mané para lá", pensei e fui embora.. Por isso, queria ter sido eu o autor das bengaladas, e não esse velhinho escritor que me lembrou a cara do Tolstoi.. Agora, pior que o Zé é o Aluísio Mercadante.. O dublê de economista e metido a coroa bonitão é mais grosso e estúpido que um coronel nordestino.. Bengalada nele!!

29.11.05


Festival..

Cenas do festival..

* Sábado, festival lotado.. Estava tomando uma com um brother, as mesas lotadas.. Levantei para comprimentar alguém e, quando volto, tem uma menina na mesa que tinha pedido para sentar um pouco.. Ela olha e solta: "conheço vc de algum lugar".. Sim, tinhamos nos conhecido há mais de dez anos num curso de cinema brasileiro.. Me lembrei na hora, pois tinha sido apaixonado por ela numa época em que ter amores platônicos era o meu forte.. Ela lá, tentando se lembrar melhor, solta essa: "Ah, vc se amarra em Beatles, né? Lembrei, vc era apaixonado por eles.." Bem, quase né?

* Outra mesa, outro dia.. Mulher desconhecida, amiga de uma amiga, fica me olhando até perguntar: "Vc não é DJ"?.. Resposta afirmativa.. "Vc já tocou lá naquele lugar, sonho do vale ou coisa parecida?""Empório do vale", respondo, "sim".. "Isso, vc tocou numa festa lá que nós organizamos, de uma clínica X". Meus neurônios, em completa agitação, tentam se lembrar de alguma coisa e... nada! "Pelo menos o som foi legal?", pergunto e ela diz: "Foi ótimo, tinha um cara tocando antes mas só ficou bom para dançar quando vc entrou". Ego satisfeito, continuo sem saber que festa foi essa, se alguém lembrar, me dê um toque...

* Encontro a produtora da festa Frenética, uma daquelas que rolam no subsolo do Dulcina. Ela me chama para tocar, dia 17, na pista rock'n'roll, junto com o Montana e o Cochlar.. Topo na hora, sempre quis tocar lá.. Se tudo der certo, vou encarar uma pista novamente no dia 16 no Landscape (numa festinha do Zeca e do Ed) e, menos de 24hs depois, de ressaca, no Conic.. O finado Pierrot iria ficar contente..

* Falando nele, no curta do Galvão, Uma noite com ela, rola uma citação de Pierrot le Fou, na cena da tesoura.. Bacana, o curta, baseado numa crônica do (hoje) Berna Vertov.. O ator é a cara do Keith Richards, uma justa homenagem.. A cena da trepada na escada, com um jazz comendo solto, a câmera rodopiando, intercalada pela tela escura, é maravilhosa, cheia de tesão.. Um belo exercício de estilo que o público (essa lenda do festival, imbecil por natureza) não entendeu e não gostou.. Puxei os aplausos, que vieram poucos e de má-vontade.. Na mesma noite, Berna Vertov apareceu na tela durante o filme A Concepção, dizendo algo como "psicodelia" ou "lisergia", não me lembro bem, "lisergiado" que estava..

* Encontro um cineasta conhecido, colega de 2º Grau.. Papo vem, papo vai e ele solta: "Nunca vou esquecer de vc falando, já naquela época, que o maior diretor de todos os tempos só poderia ser um brasileiro: Glauber Rocha. Eu nem entendia de cinema ainda e vc já conhecia coisa pra caralho"... Moral da história: não basta entender de cinema, ele virou cineasta, eu não!

28.11.05


Murilo Grossi em cena do filme A Concep��o

Enfim, um filme brasiliense

Doces Poderes, Loucos por Cinema, A Idade da Terra, As Vidas de Maria, O Cego que Gritava Luz, A Terceira Margem do Rio, os filmes do Brazza.. Brasília foi cenário de muitos filmes, mas a cidade que emerge deles não é essa em que eu e você vivemos, é uma cidade tão falsa como um cenário da Globo.. O grande mérito de A Concepção, exibido ontem no Festival, é o de ser o primeiro filme realmente brasiliense, de quem conhece e vive a cidade como nós, tornando-a reconhecível nos seus recortes.. Gate's, Setor Comercial Sul, W4 Norte, Conic, um apartamento qualquer da Asa Sul, a área de serviço de cobogós, a quadra do Piantella, espaços que se integram na narrativa sem que a cidade se torne metáfora, personagem, símbolo das contradições, blá-blá-blá..

É apenas a Brasília cotidiana, cidade difícil de ser amada, de apenas três lugares - "o serviço público, o aeroporto ou o hospício", como diz um dos personagens do filme - "cidade de merda" (idem), palco de nossas (minhas) despirocações.. Brasília dos filhinhos de papai, da maior renda per capita do país, de uma juventude antenada e muitcho loca, um "território livre para as drogas", nas palavras recentes do chefe da Polícia Civil.. Brasília do Superquadra, do Prot(o), da Plebe Rude, bandas que compõe a trilha sonora do filme.. Brasília de verdade, enfim, nas telas..

O primeiro ranheta logo grunhiu: Trainspotting do cerrado.. Seria antes Os idiotas, com a idéia de levar até as últimas consequências uma proposta / estilo de vida contestador.. O moralismo do diretor, entrevisto aqui e ali, não atrapalha o filme (graças a Deus), mais fascinado com as aventuras dos personagens do que preocupado em criticá-los.. Os personagens vivem e respiram (ao contrário de Subterrâneos, o filme anterior de Belmonte, preso nos estereótipos do sindicalista, do evangélico, do gringo).. O cinema brasiliense, enfim, nasceu.. Que nossos cineastas parem de tentar fazer teses sociológicas e voltem suas camêras para os seus/nossos umbigos.. A cidade agradece..

27.11.05


Ruy Guerra, diretor de Veneno da Madrugada

Um belo longa..

Devo confessar que meu conhecimento sobre a obra de Ruy Guerra limita-se aos Cafajestes. Uma falha considerável para quem já viu dezenas de filmes do cinema novo, nem Os Fuzis passaram diante dos meus olhos. Sem nada além da fama do diretor, lá fui eu para o Festival de Cinema assistir ao Veneno da Madrugada, inspirado num romance de Garcia Marques. Fui e gostei..

É um desses filmes que a gente pode abrir mão de tentar entender a trama, no caso, complicada e confusa, nos deixando à vontade para assistir ao filme como um poema, atendo-se à beleza da forma. A construção dos planos, iluminados de forma a criar espaços não-visíveis dentro da cena (cuja lógica cristaliza-se numa construção insistentemente repetida em que a câmera é colocada atrás de uma porta ou janela semi-aberta, criando um quadro estreito dentro do quadro e realçando esse espaço morto) é uma bela trancrição para a linguagem cinematográfica do universo de Garcia Marques.. Nesse universo, os personagens vivem seus dramas num espaço morto, sufocado pelos costumes e pela lógica (oculta) de uma sociedade decadente, cuja razão de ser deixou de existir com a quebra do sistema econômico dos tempos coloniais (marxista isso, hein?).. Sim, o filme é muito longo e chato, mas vale a pena nem que seja para babar na fotografia by Walter Carvalho..

Hoje é dia do filme do Belmonte.. Vamos ver que se ele confirma as qualidades do Subterrâneos.. A conferir..

26.11.05


Thomas Mann e o funk carioca..

A música, essa amoral..

No esforço de livrar minha estante de fantasmas insepultos, me dedico nos últimos dias a devorar o Doutor Fausto, de Thomas Mann.. Há nele um desenvolvimento das idéias já esboçadas pelo personagem Setembrini em A Montanha Mágica: a música é a mais perigosa, pela sua amoralidade, das artes. Pelo seu caráter abstrato, sua potencialidade, sua sensualidade, ela pode se transformar num perigoso questionamento aos valores humanos. Daí a sua proximidade com o diabólico, idéia que o livro vai desenvolver na figura do músico que vende a sua alma ao tinhoso.

Engraçado como, desde Robert Johnson, passando por Jimmy Page e sua adoração a Crowley, Ozzy e seus morceguinhos, até os malucos das bandas death do norte da Europa que botavam fogo em igrejas, o cramunhão ainda está ligado à música. Penso que Mann tinha em mente Wagner e a Alemanha do III Reich (Hitler adorava suas óperas), sendo que até hoje as obras do compositor alemão não são tocadas em Israel. Mas, a acusação à música é reinterada hoje quando deputados e senadores franceses pedem a interdição de músicas de rappers locais que, segundo eles, incentivaram a violência dos distúrbios nos subúrbios franceses. O poder diabólico e sensual, por isso mesmo político, da música (vide o funk carioca) ainda provoca repulsa nos puristas e conservadores. Que assim seja! Aí reside sua força e fascínio, mesmo que seja na violência explícita dos rappers ou na baixaria ignominiosa das Tatis da vida.

24.11.05


Smiley!!!

Everything it's gonna be alright..

Cagaço.. Pessimista, vaticinei: hoje não vai dar ninguém lá.. Dia chuvoso, festival de cinema, não vi divulgação nenhuma nos sites.. A quarta edição do Esquema Lounge, na minha cabeça, tinha tudo para ser um fracasso.. Que nada: justo no aniversário do meu pai (que deu o ar de sua graça por lá) foi um dia de casa cheia, gente chegando sem encontrar mesa, amigos (poucos), mas selecionados, numa noite fantástica.. Zeca, Ed e Dani deram um som bacanérrimo.. Que todas as quartas sejam assim, deixando na face esse sorriso besta de que, sim, estou no caminho certo..

22.11.05


Manderlay e a lind�ssima "who the fuck"

Ele voltou..

Não consigo pensar num nome mais importante para o cinema dos últimos 10 anos do que o de Lars Von Trier.. Quando vi Os Idiotas pela primeira vez, ainda em vídeo, parei a fita por três vezes, sem conseguir suportar o incômodo e a repulsa que a situação do filme me provocava.. Ao final de Dançando no Escuro, fiquei uns cinco minutos atônito, fui para a varanda espairecer, tentar me recuperar do impacto.. Liguei para a minha namorada da época, já tarde, tentando explicar como o filme (que ela não gostara) tinha me afetado e como era do caralho, um dos 10 melhores de toda a história do cinema, blá,blá,blá..

Dito isso, devo confessar que não achei Dogville, tão badalado por outros, o melhor de Lars Von Trier.. O esquema mulher-pura-e-ingênua-se-fode-até-o-fim, utilizado em Dançando no Escuro e em Ondas do Destino, já estava ficando batido.. O fime, no entanto, se salvava na reviravolta do final, quebrando o esquematismo dos anteriores.. Por isso, a estréia de Manderlay me deixou curioso para saber o que faria esse dinamarquês porra-louca e escroto que conseguiu avacalhar com a Bjork e a Nicole Kidman, que não querem vê-lo nem pintado com a cor da estátua do Oscar..

Bem, há algumas mudanças significativas. Sai o esquema ela-se-fode-até-o-fim para dar lugar a um novo, que pode ser definido como mulher-pura-e-idealista-tenta-fazer-as-coisas-certinhas-e-fode-com-tudo. Acho que só em Manderlay saquei como a representação sem cenário era uma consequência lógica da evolução do estilo de Lars Von trier, que realça o caráter esquemático e experimental da situação proposta, provocando um distanciamento a la Brecht. . O fascinante é que o filme nos leva à fronteira do realismo, sem, no entanto, quebrá-lo.. Ok, é fácil ver o filme como uma crítica à ação americana no Iraque (reforçada pela foto do seu Bush no final), mas penso que seria simplista demais reduzi-lo a isso.. É mais interessante pensá-lo como uma subversão, um reflexo invertido do esquematismo hollywoodiano, onde o bem e a vontade de fazer o bem sempre triunfam no final..

E, para amenizar o comentário cabeção, a atriz (não, eu não me importo com o nome de atrizes) é linda, linda, linda.. Não precisa nem dizer que vale a pena vê-lo, né?

Os Donos do Poder

Saudade dos tucanos..

Há tempos me assombrava na estante Os donos do poder, de Raymondo Faoro.. Foi necessário gastar mais de uma semana para devorar suas 800 e poucas páginas, mas me livrei dele.. A idéia central da obra é de que o Estado, desde a fundação do reino português, passando pela sua transmigração ao Brasil, chegando até a Era Vargas, é a besta-fera que, do alto, sempre guiou o destino das duas nações.. Forte, centralizador, opressor, dirigiu a aventura transatlântica e colonizou o país, ávido pelo lucro fácil, consumindo a riqueza obtida em proveito exclusivo dos seus, um parasita que sufocou a iniciativa privada e a formação de uma sociedade emancipada, sempre dependendente e desejosa dos seus favores e privilégios..
É esse mesmo Estado que ainda hoje sufoca o país, arrecadando mais de 35% do PIB em impostos e, oferecendo em troca, ineficiência e corrupção.. Pelo menos os tucanos, em alguma medida, tentaram diminuir a presença do monstro, com suas privatizações e reformas, apesar de terem promovido o aumento brutal da carga tributária.. E o PT, o que fez, o que propôs? Nada: para eles, parece que não há nada de errado com a besta-fera e que bastaria um pouquinho a mais de verbas (contigenciadas pelo seu Palóci) para que ninguém mais segurasse esse país..
Lendo o Faoro, dá vontade de se filiar a um partido liberal, se ao menos existisse um digno do nome por aqui.. O drama atual é o mesmo de séculos: eles só querem cargos, poder, privilégios, um DAS, uma comissãozinha.. Eles não, todos nós, que lotamos os cursinhos em busca do concurso que nos franqueará a entrada para o mundo da estabilidade, dos salários altos e do serviço pouco.. Inclusive eu!

doctorfroes

De volta às pistas..

Foi a segunda vez nesse ano (que me lembre) que toquei numa festinha.. Enferrujado, lá fui eu tentar segurar uma pista de dança a noite inteira.. Quando fui montar o equipamento, saquei o drama: a pista era imensa, ou seja, invariavelmente, ia dar a impressão de estar vazia.. Inseguro, não tive pruridos em dar uma apelada: Cake, New order, The Cure, tudo no começo para chamar o povo... Na primeira parte, me dei bem, já na segunda...
Parei de tocar para que um dos aniversariantes tirasse uma chinfra de DJ... Depois do neófito ter sacado, sem piedade, um Jota Quest (o amor é o calor é o caralho!), dei uma pressionada para voltar... Segurei a pista, fiz uma sessão nacional que empolgou uma galera... Mas, não sei quando, nem onde, nem porquê, fui perdendo a pista, que esvaziou-se completamente quando mandei Even Flow, do Pearl Jam.. Tempos estranhos esses, onde os (poucos) pedidos do público se resumem a forró ou hip-hop.. E eu, um pobre DJ de rock'n'roll, fiquei lá, com cara de otário, sozinho na pista imensa..
Só desejo ao Roriz e a poucos outros seres humanos desse naipe passar por essa situação.. É como se a sua namorada, sem explicações, brigas ou motivos aparentes, te largasse assim, de uma hora para outra... Primeiro, rola a sensação de perplexidade.. Desnorteado, vc tenta entender o que aconteceu.. Depois, vem as tentativas desesperadas de reconquistá-la, atabalhoadas sempre (U2, hip-hop, nacional anos 80), deixando o orgulho de lado e fazendo as mais inverossímeis juras de amor... Nada dá certo, bate a frustração e a sensação de impotência, que desaguam na mágoa e no despeito.. "Ela não prestava mesmo, nem me merecia", o pensamento vem do fundo de mais uma latinha de cerveja (aí vc coloca no som uma música que só vc gosta e conhece, tipo Bersuit Vergarabat)... Ferido, vc nem repara no "novo amor" que surge na sua frente..
"Rola um samba", pediu a menina linda, chapada, que, por pouco, não foi mandada com um pé na bunda direto para o Calaf... Pediu uma, duas, três vezes, sempre recebendo como resposta a amargura e o ressentimento... Mas, rendido pelos atributos inquestionáveis da juventude em flor, acatei o pedido e.. não é que deu certo? O sambinha reanimou o que restava da festa, que terminou com esse DJ completamente chapado pulando ao som de Mombojó e D&B.. "Music is everything", cantava o vocal do velho e bom drum'n'bass.. A minha música, everything de bom, para dançar, é eletrônica.. Não tenho mais o menor saco para as pistinhas rock'n'nroll..