26.11.05

A música, essa amoral..

No esforço de livrar minha estante de fantasmas insepultos, me dedico nos últimos dias a devorar o Doutor Fausto, de Thomas Mann.. Há nele um desenvolvimento das idéias já esboçadas pelo personagem Setembrini em A Montanha Mágica: a música é a mais perigosa, pela sua amoralidade, das artes. Pelo seu caráter abstrato, sua potencialidade, sua sensualidade, ela pode se transformar num perigoso questionamento aos valores humanos. Daí a sua proximidade com o diabólico, idéia que o livro vai desenvolver na figura do músico que vende a sua alma ao tinhoso.

Engraçado como, desde Robert Johnson, passando por Jimmy Page e sua adoração a Crowley, Ozzy e seus morceguinhos, até os malucos das bandas death do norte da Europa que botavam fogo em igrejas, o cramunhão ainda está ligado à música. Penso que Mann tinha em mente Wagner e a Alemanha do III Reich (Hitler adorava suas óperas), sendo que até hoje as obras do compositor alemão não são tocadas em Israel. Mas, a acusação à música é reinterada hoje quando deputados e senadores franceses pedem a interdição de músicas de rappers locais que, segundo eles, incentivaram a violência dos distúrbios nos subúrbios franceses. O poder diabólico e sensual, por isso mesmo político, da música (vide o funk carioca) ainda provoca repulsa nos puristas e conservadores. Que assim seja! Aí reside sua força e fascínio, mesmo que seja na violência explícita dos rappers ou na baixaria ignominiosa das Tatis da vida.

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