28.11.05

Enfim, um filme brasiliense

Doces Poderes, Loucos por Cinema, A Idade da Terra, As Vidas de Maria, O Cego que Gritava Luz, A Terceira Margem do Rio, os filmes do Brazza.. Brasília foi cenário de muitos filmes, mas a cidade que emerge deles não é essa em que eu e você vivemos, é uma cidade tão falsa como um cenário da Globo.. O grande mérito de A Concepção, exibido ontem no Festival, é o de ser o primeiro filme realmente brasiliense, de quem conhece e vive a cidade como nós, tornando-a reconhecível nos seus recortes.. Gate's, Setor Comercial Sul, W4 Norte, Conic, um apartamento qualquer da Asa Sul, a área de serviço de cobogós, a quadra do Piantella, espaços que se integram na narrativa sem que a cidade se torne metáfora, personagem, símbolo das contradições, blá-blá-blá..

É apenas a Brasília cotidiana, cidade difícil de ser amada, de apenas três lugares - "o serviço público, o aeroporto ou o hospício", como diz um dos personagens do filme - "cidade de merda" (idem), palco de nossas (minhas) despirocações.. Brasília dos filhinhos de papai, da maior renda per capita do país, de uma juventude antenada e muitcho loca, um "território livre para as drogas", nas palavras recentes do chefe da Polícia Civil.. Brasília do Superquadra, do Prot(o), da Plebe Rude, bandas que compõe a trilha sonora do filme.. Brasília de verdade, enfim, nas telas..

O primeiro ranheta logo grunhiu: Trainspotting do cerrado.. Seria antes Os idiotas, com a idéia de levar até as últimas consequências uma proposta / estilo de vida contestador.. O moralismo do diretor, entrevisto aqui e ali, não atrapalha o filme (graças a Deus), mais fascinado com as aventuras dos personagens do que preocupado em criticá-los.. Os personagens vivem e respiram (ao contrário de Subterrâneos, o filme anterior de Belmonte, preso nos estereótipos do sindicalista, do evangélico, do gringo).. O cinema brasiliense, enfim, nasceu.. Que nossos cineastas parem de tentar fazer teses sociológicas e voltem suas camêras para os seus/nossos umbigos.. A cidade agradece..

Um comentário:

Anônimo disse...

O rapaz que escreveu (?) e dirigiu A Concepção dá a impressão de ter assistido a apenas quatro filmes na vida: Laranja Mecânica, Clube da Luta, Réquiem Para um Sonho e, sim, Trainspotting. Juntou os quatro e decidiu que tinha um filme na cabeça (nessa brincadeira, lá se vai meu rico dinheirinho na lei de incentivo à mediocridade). O nome de Mateus Natchergale em um dos frames (sacação a la David Fincher???) é podre. Os diálogos são tão infantis que fazem rir de verdade ("Agora a gente pode fazer as coisas do jeito certo") e a montagem, que corta as cenas a cada 10 segundos, só serve para ninguém perceber que está assistindo a uma bobagem sem fim (a montagem é a grande sacação do filme! Voilá!). Dá vontade de chegar para o cara e falar o seguinte: "Legal, seu filme é massa. Agora me dá aqui que eu vou escrever um texto de verdade para ele e você filma tudo de novo..."
Velho Bota
P.S. - Pelo menos tem a Rosanne Holland, que é "linda, linda, linda", como diz você.