31.12.06

"I'd rather be with Ray"..

Enquanto my brown eyed girl está em Floripa, curtindo suas merecidas férias, me entrego a duas putas mulheres.. Zadie Smith e seu livro, Dentes brancos, preenchem essas horas mortas com um romance multicultural de primeira, o melhor dessa safra paquistaneses-em-crise-vivendo-em-Londres, com boas sacadas que só uma escritora de 24 anos poderia ter (volto a ele em momento oportuno).. A outra é Amy Winehouse e seu segundo disco Back to Black.. Muitas cantoras surgiram nesses últimos anos: Norah Jones, Joss Stone, Madeleine Peiroux.. Todas lindas, perfeitas, pequenas marisas montes a retomar a tradição da canção popular, enfim, um saco!.. Fico com a Amy e seu poderoso e sarcástico refrão - "No, No, No" - como uma lembrança desse 2006 em que me deixei levar por todos os convites que surgiram: o da ex-namorada que voltou, o de ser professor, o de trabalhar no Ministério da Saúde, o de retomar a função de editor numa TV.. Não me arrependo de nenhum deles, mas prefiro tomar as rédeas da minha vida e escolher o que quero fazer, com quero estar, onde quero morar.. E que assim seja 2007: um capricho da minha vontade salpicado por todas as boas surpresas que a vida nos traz.. E que assim seja o ano para vocês também, caríssimos leitores.. See ya in 2007!!

29.12.06

Top Single of the Last Week

A todos os amigos bebuns: abram uma cerveja, relaxem e ouçam a voz de Amy Winehouse, amarga e deliciosa como uma Stella Artois..

http://www.youtube.com/watch?v=LD5sahXoj0U

28.12.06

Por uma vida mais saudável e ordinária..

Acorde cedo.. Relativamente cedo.. 10hs tá bom.. Dê uma olhada pela cortina e veja como está o tempo lá fora.. Vista uma bermuda e camiseta, coloque um tênis.. Não fume.. Coma uma banana.. Saia para uma boa caminhada ao som do disco The Life Persuit, do Belle & Sebastian.. Sinta o calor dos raios de sol que ultrapassam as nuvens.. Pense como deve estar um puta frio lá na Escócia e, mesmo assim, esses caras conseguem fazer essas músicas alegres e fofinhas.. Sinta a vontade de fazer coisas fofinhas como desenhar corações num tronco de árvore.. Reprima a sua vontade.. Continue a caminhada.. Dê uma corrida.. Sinta os efeitos deletérios do fumo no seu fôlego.. Volte a caminhar.. Xingue a patricinha rorizista que não respeita a faixa de pedestres.. Xingue em voz alta.. "Ô, filha da mãe".. Dê uma passada no supermercado.. Compre um saquinho de salada Malunga, 1 litro de leite desnatado, 1 kg de meio peito de frango sem osso e sem pele.. Passe na banca e compre o jornal.. Resista à vontade de fumar um cigarro.. Passe em frente à padaria.. Não compre um cigarro picado.. Tá bom, compre um cigarro picado.. Acenda o cigarro.. Volte para casa e faça um café.. Tome uma água com gás.. Leia o jornal.. Passe os olhos nos títulos das matérias de política.. Leia o artido do Contardo Calligaris, deitado na chaise longue que acabou com o seu saldo bancário, ouvindo MC Sollar.. Fume mais uns cigarros.. Prepare o almoço.. Pense em como se faz um meio peito de frango sem osso e sem pele.. Esqueça o meio peito de frango sem osso e sem pele.. Pegue a caixa de nuggets.. Descubra que você não tem uma travessa para assá-los.. Esqueça os nuggets.. Faça uma salada com alface americana, alface crespa, rúcula, cenoura.. Coloque uns pedaços de peito de peru defumado e uvas passas.. Almoce.. Faça mais um café.. Fume mais uns cigarros.. Tome coragem e comece a arrumar a casa.. Lave a louça.. Varra o chão.. Limpe o banheiro.. Ah, deixe o banheiro para amanhã.. Coloque para tocar o Greatest Hits, do Sly & Family Stone.. Deite de novo na chaise.. Olhe para a caixinha rosa que está na prateleira do rack, aquela que veio embrulhando o CD do Al Green que você ganhou de Natal da sua nova namorada.. Pense em como pessoas apaixonadas fazem coisas sem sentido, como ficar olhando para caixinhas rosas que embrulharam presentes de Natal de namoradas.. Sinta-se feliz por estar apaixonado e fazer coisas sem sentido.. Cante Hot Fun in the Summertime, deitado na chaise, fumando um cigarro.. Sinta vontade de tirar um cochilo.. Lembre-se que você tem que ir trabalhar.. Vá tomar banho para ir trabalhar.. Vá trabalhar..

26.12.06

Da série Roubadas..

* Assumo as pick-ups na festinha da banda cover Cloning Stones.. O começo é bem legal, ninguém quer dançar, então posso soltar as amarras e tocar coisas pouco usuais numa pista de dança: Twice As Hard (Black Crowes), Loaded e Movin' On Up (Primal Scream), The Ubiquitous Mr. Lovegrove (Dead Can Dance), Subterranean Homesick Blues (Bob Dylan), Tomorrow Never Knows (na versão do Violeta de Outono).. A banda é boa e anima os presentes, um público bem variado, com muitos boysinhos malhados e meninas de sainha hippie.. Na última música dos clones, o som vai para o espaço.. Uma gambiarra aqui, outra ali, o som volta ligado nos amps de guitarra... Uma merda, tanto na altura quanto na qualidade.. Perco o tesão, dou piti.. Garcia assume o som e segura a onda com uma sessão de rock contemporâneo.. Volto emburrado, e, quando descubro que a cerveja acabou, tasco Lights, do Sisters of Mercy e acabo com a festa.. Pena, tinha tudo para ser um som bacana..

* Disco Tech - Espaço Galeria, Conic.. Vamos lá dar mais uma chance para o DJ Hopper tentar provar que ainda vale a pena arriscar uma noite com o som dele.. No Way! Se a moda é o minimal, o senhor ganhafoto junta os bracinhos e diz amém.. O minimal pode ser legal, vide Ritchie Hawtin no BMF, mas não essa chatice que sai das caixas, um som flat, sem crescendos, breaks, sem surpresas, que serve, no máximo, para trilha sonora de barzinho descolado.. O público é composto de patricinhas e playbas que parecem curtir o tun-tis-tun sem sal, mas acho que eles estariam bem do mesmo jeito na Trend.. Eu e Paixão (companheira de roubada) ainda tentamos dançar, mas não rola.. Você se contenta com o mínimo? Eu não.. I Want More..

* Bar Concentração, sábado à noite.. Uma cerveja.. Quente.. Um chopp.. Quente.. A garçonete, mal-educada, me ignora.. Quando resolve trabalhar, pergunta: "E aí, vai tomar mais o quê?".. "Eu queria uma cerveja, mas tá tudo quente".. "Fazer o quê, né?", ela vira as costas e vai embora.. Nada pior que garçons desaforados.. Pedir a conta e nunca mais voltar lá, essa é a única resposta possível, não?

25.12.06

For the Godfather of the Soul..

Sincronicidade, diria Doctor Jung.. Acordo no dia de Natal e, para acompanhar a leitura diária do jornal, coloco para tocar o Live at the Apollo, vol. 1.. Somente à tarde, ao chegar a redação, descubro que James Brown Is Dead..

The Godfather of the Soul, o inventor do funk.. Lembro da emoção de ter encontrado, num sebo de São Paulo, a caixinha quádrupla Star Time, minha introdução ao universo do Soul Brother Nº 1.. Todo mundo sabe quem é o cara, mas poucos param realmente para ouvi-lo.. Esqueçam Sex Machine e I Feel Good.. O melhor do funk do The hardest work man in show business é paranóico, repetitivo, quebrado, nada palatável.. O hip-hop e a música eletrônica estão contidas ali, embrionariamente, nas suas células rítmicas em loop.. Ouçam Get Up, Get Into It And Get Involved, a minha favorita, sete minutos de pura combustão política-musical que dá aquela vontade de sair para a rua e quebrar tudo, assim como fazem White Riot, do Clash, ou Fight The Power, do Public Enemy..

E, se ficou famoso como o inventor do funk, Brown também era um puta cantor de soul, como é possível ouvir no lendário Live at the apollo, injentando o que Iggy Pop definiu como raw power em baladas açucaradas.. Os 10 minutos de Lost Someone são mágicos, com os improvisos vocais de Brown levando o público (e o ouvinte) a um frenesi catártico..

A obra do Mr. Dynamite é vasta e irregular, mas versátil.. Há a trilha sonora estilo blaxpoitation de Black Caesar, o crooner de Gettin' Down To It, e os ritmos latinos que pipocam aqui e ali por entre funks e proto-discos do álbum Hell.. Rest in Peace, man!

21.12.06

Ascension..

"Eu aceito".. Ela respondeu assim, de sopetão, à pergunta da noite anterior, enquanto parecia brincar na coluna de fumaça do Anish Kapoor, tão linda num vestido branco.. E eu me dissolvia no instante daquele beijo.. Sem passado ou desejo, totalmente entregue, eu era efêmero e maleável como as formas que surgiam da intervenção dos braços dela no espaço.. Não houve porquês, contratos, exigências ou promessas, como deve ser tudo o que pertence à dimensão totalitária da alegria..

13.12.06

Sábado à noite, show do Superquadra (parte 2)




Tinha tudo para ser uma das melhores noites de rock'n'roll do ano de Brasília.. Era o lançamento do aguardado primeiro disco do Superquadra.. Para os padrões locais, era uma super-produção: uma banda de abertura de fora (Binário, do RJ), vários DJs, instalações artísticas, VJs, equipamentos de som de primeira.. Saiu em todos os jornais, com divulgação maciça na internet.. Local: Arena.. Preços acessíveis: 10 conto.. Noite de verão sem chuva..

Foi o fiasco do ano, talvez da década.. O disco, Tropicalismo Minimal, não ficou pronto à tempo.. Público contado nos dedos: 47 (o que incluía membros da banda).. Público estimado total: 60 pessoas.. Fiquei até com a consciência pesada por ter arrastado um brother para lá, logo ele, que odeia bandas nacionais.. "Mal aí", diria Esquilo, o companheiro do Overman..

O Binário abre o show: são 3 guitarristas, 2 bateristas, 1 baixista e 1 tecladista/outras cositas eletrônicas (formação um pouco exagerada, merecia um choque de gestão).. Banda interessante, na linha psicodélico com sacadas eletrônicas.. As guitarras descem bem.. Algumas letras se salvam (um pouco superior à média).. Eles até tentam disfarçar: "Valeu Brasília", solta o vocalista algumas vezes..

É a vez dos anfitriões: 1,2,3,4, começa a primeira música e... A luz acaba! Volta, outra música e... De novo! Mais broxante impossível.. Estamos lá, a banda e o público, apenas por consideração à algo que deveria ser e não foi... As poucas dezenas de testemunhas assistem ao show sentadas no chão, anti-clima total.. A apresentação é curta, o bis vem de má-vontade.. Ao final, preciso desabafar... Encontro o Cláudio Bull (o vocalista).. "Só queria te dizer uma coisa, brother: Brasília não merece o Superquadra"..

Sábado à noite, show do Superquadra (parte 1)

(No Caixa)
- Eu quero uma vodka...
- A gente não vende vodka.
- Mas, vocês vendem Hi-Fi, não?
- Vendemos sim...
- Então, eu pago, mas quero só a vodka...
- A gente não vende vodka.
- Então me vê um Hi-Fi..

(No balcão)
- Brother, me vê uma vodka..
- A gente não serve vodka..
- Mas vocês não vendem Hi-Fi? Então, é só fazer um Hi-Fi sem Fanta..
(consulta o gerente)
- Não, a gente não serve vodka..
- Então faz o seguinte: me traz a dose de vodka e a fanta que eu mesmo misturo, ok?
(consulta o gerente novamente)
- Não dá..
- Caralho, me traz só a porra da vodka.. Não fode!!
(troca de olhares entre o atendente e o gerente)
- Desculpa, eu sou novo aqui, é o meu primeiro dia.. Vou trazer para você.. Quer gelo?
- Sim.. Valeu, brother..

9.12.06

Mandando V..

"O celular toca e a música tema é We will rock You, do Queen. Quem atende é um "senhor" de 50 anos, camisa preta, botas da mesma cor e jeans. Nos dedos, três anéis prateados. No antebraço, tatuagem e munhequeira de couro. No rosto, o indefectível bigode que, junto com os longos cabelos, apresentam aqui e ali as marcas enbranquiçadas da idade. A semelhança física com lemmy, o lendário vocalista da banda Motorhead, salta aos olhos. No meio rock'n'roll de Brasília, ele também é uma lenda, conhecido pela alcunha de Marcão Adrenalina"

Esse é o abre de um perfil que fiz do Marcão, morto hoje. Definitivamente, ele era um cara bacana.. O rocker safra 60/70 por excelência.. O que mais me impressionou nele foi não ter parado no tempo musicalmente, se esforçava em ficar ligado no que acontecia de novo.. Manda ver, brother, onde quer que você esteja.. Deixo aqui duas frases dele que saíram na matéria:

"O mundo não anda para trás, odeio aqueles caras que ficam só falando de Stones e Led Zeppelin e de como no tempo deles era legal"

"Um menino de 16 anos tem mais liberdade que um homem casado: pelo menos chega em casa de madrugada e não leva esporro"

8.12.06

A house is not a motel (e vice-versa)

Guará, 4 da matina.. "Oh, fuck!", pensei.. No dia seguinte, teria que estar cedinho na faculdade.. O Plano Piloto e quase todo o Lago Norte me separavam de casa.. Ir, dormir e voltar tudo de novo.. Tive então uma idéia brilhante: vou dormir por aqui mesmo, num desses motéis..

Posso me considerar um profundo conhecedor desse tipo de estabelecimento em Brasília.. Um pouco por vivência, muito por motivos profissionais: uma reportagem para a Revista do Correio com o ranking dos melhores motéis da cidade.. Para definir qual era o melhor lugar para se passar uma noite pouco católica, fui escrupuloso, elaborando uma tabela com vários itens a serem avaliados, como limpeza, cardápio, conservação, equipamentos, com notas de 1 a 5.. Visitei mais de 10 motéis, sempre incógnito, para não dar chance aos estabelecimentos de falsear a realidade.. Chegava às suítes e conferia o frigobar, procurava manchas nos lençóis, cabelos na banheira, opções de canais na TV.. Foi um trampo e tanto.. O rigor científico indicou o Flamingo como o melhor, mas o meu preferido foi o Playtime, de Taguá (deu (ops!) vontade de morar na suíte japonesa do lugar)..

Mas não lembrei de nada disso e entrei no primeiro que surgiu no Núcleo Bandeirante, o Park Way (de razoável para bom) .. Confesso que não sou fã de motéis, apesar de achar que, às vezes, eles fazem bem para um casal imerso na rotina.. Um banho de banheira, uma iluminação bacana, o próprio fato de estar num lugar diferente fazem efeito.. Mas detesto aquelas decorações pseudo-sensuais e gostaria que tivesse a opção "espelho/sem espelho" para que pudéssemos escolher..

(top 5 músicas de motel:
1 - Hotel California - Eagles
2 - Sexual Healing - Marvin Gaye
3 - Justify my love - Madonna
4 - Fogo e paixão - Wando
5 - Patience - Guns 'n' Roses
obs: Je T'Aime Moi Non Plus não vale!)

Bateu uma sensação estranha, de solitude, deitado ali na pequena cama-redonda.. No espelho, apenas me, myself & I.. Num quarto de motel, tudo indica a ausência de um outrem.. A estranheza virou conforto e a vontade de ir morar sozinho, idéia que, parece, fincou raízes..

Poucas horas depois, na saída, a lei de murphy mostrou o seu lado implacável.. La cuenta! BB débito? Não-autorizado! (a porra do cheque não foi compensado).. BRB débito? Saldo insuficiente! (caralho, transferi ontem todo o dinheiro para a aplicação).. Ah, tem o crédito, porque a vida é agora.. Não-autorizado! (puta-que-pariu, dona Visa, explique-se).. Thanks God pela falta de companhia..

6.12.06

Madame Bovary e os beijos roubados..

Confesso que o realismo de Flaubert não me conquistou de cara.. E a sua tão propalada escrita perfeita não surge de imediato na tradução.. Mas, com um pouco de persistência, a história engrena.. E vão surgindo os tipos tão bem delineados pelo escritor naquela triste aldeia de Yonville: Humais, o farmacêutico medíocre e puxa-saco; Rodolphe, o amante aproveitador e cínico; Charles, o esposo tapado e acomodado; Lheureux, o comerciante filha-da-puta e traiçoeiro..

Cercada por essa gente, a pobre Emma Bovary vai em busca de seus sonhos românticos que vão terminar em tragédia.. Quem nunca teve seus dias de Madame Bovary? De viver 24 horas por dia em função de uma paixão desmedida, sem ligar para dinheiro, para o que os outros vão dizer, para o trabalho e a rotina? Sua história é um alerta, um chamamento à realidade, mais do que uma censura pelo seu comportamento.. Mas é impossível não se apiedar da sua trajetória.. Ela, pelo menos, tentou viver além, não se conformou e pode sentir os prazeres dos tais beijos roubados..

Duas cenas me marcaram: a primeira é a do dia da exposição de animais na cidade, onde vão se revezando o discurso do representante do prefeito sobre trabalho, os deveres dos cidadaõs etc.. e as cantadas de Roberth fazendo juras de amor à Emma.. A construção ressalta a diferença entre o mundo real e o romântico, ao mesmo tempo que aponta para a falsidade das duas falas.. A outra é a da divertida discussão entre Humois e o padre Bournisien sobre religião no quarto em que se encontrava o corpo de Bovary (sim, ela se mata no final), cena que faz saltar aos olhos a insensibilidade e a mesquinhez desses personagens..

Fiquei com vontade de reler Anna Karenina e fazer a comparação entre duas das mais importantes personagens da literatura universal.. Deixo aqui duas citações de trechos do romance que, na minha opinião, exemplificam bem o estilo de Flaubert:

"A palavra humana é como um caldeirão fendido em que batemos melodias para fazer dançar os ursos, quando antes queríamos enternecer as estrelas"

"Tudo mentia! Cada sorriso ocultava um bocejo de enfado, cada alegria uma maldição, todo prazer o seu desgosto, e os melhores de todos os beijos não deixavam nos lábios senão uma irrealizável ânsia de voluptuosidades mais intensas"

4.12.06

Fogo & Gelo..

Domingão, dia de tomar uma com os meus dois melhores amigos.. Somos todos com quase trinta.. A diferença é que sou o único solteiro da mesa.. Eles, casados, fazem planos de construir casas e tal.. Quanto a mim, apenas canto com o Macal... Há todo um mundo lá fora:

"As coisas passando eu quero
É passar com elas eu quero
E não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro
e a marca de um abraço no seu corpo
Não, não sou eu quem vai ficar num porto chorando, não
Lamentando o eterno movimento dos barcos"

P.S: Saldo da noite: um pé torcido na escada do Beirute, três dias de molho, compressas de gelo de 2 em 2 horas..

2.12.06

Madame Bovary et moi..

Sábado à noite, um programa casalzinho.. Convido Madame Bovary para dar um pulo ali, na Quituarte, num restaurante japonês.. Um misoshiro aplaca os efeitos deletérios da noite passada, que começou no Rayuela, passou por alguns copos de chopp no aeroporto, revisitou o antigo Barrigudo's (agora Manara) e terminou (ufa!) no 2º Clichê.. Shitakes na manteiga caem bem enquanto ouço Emma contar sua história de um casamento sem amor, dos dias ordinários entregues à mesmice de uma cidade do interior, de uma vida tão monótona que se torna possível contar nos dedos de uma mão os lugares diferentes em que ela passou ao menos uma noite.. Não censuro seu desejo de experimentar os prazeres de Paris, da corte, dos bailes, de viajar pelo mundo.. E nem os seus sonhos de paixões intensas e ideais como as vividas pelos personagens dos romances românticos do século XIX.. Pobre mulher! Espero que um dia ela conheça as delícias de sentir a face enrubescer por causa de um beijo roubado..