22.11.05

Ele voltou..

Não consigo pensar num nome mais importante para o cinema dos últimos 10 anos do que o de Lars Von Trier.. Quando vi Os Idiotas pela primeira vez, ainda em vídeo, parei a fita por três vezes, sem conseguir suportar o incômodo e a repulsa que a situação do filme me provocava.. Ao final de Dançando no Escuro, fiquei uns cinco minutos atônito, fui para a varanda espairecer, tentar me recuperar do impacto.. Liguei para a minha namorada da época, já tarde, tentando explicar como o filme (que ela não gostara) tinha me afetado e como era do caralho, um dos 10 melhores de toda a história do cinema, blá,blá,blá..

Dito isso, devo confessar que não achei Dogville, tão badalado por outros, o melhor de Lars Von Trier.. O esquema mulher-pura-e-ingênua-se-fode-até-o-fim, utilizado em Dançando no Escuro e em Ondas do Destino, já estava ficando batido.. O fime, no entanto, se salvava na reviravolta do final, quebrando o esquematismo dos anteriores.. Por isso, a estréia de Manderlay me deixou curioso para saber o que faria esse dinamarquês porra-louca e escroto que conseguiu avacalhar com a Bjork e a Nicole Kidman, que não querem vê-lo nem pintado com a cor da estátua do Oscar..

Bem, há algumas mudanças significativas. Sai o esquema ela-se-fode-até-o-fim para dar lugar a um novo, que pode ser definido como mulher-pura-e-idealista-tenta-fazer-as-coisas-certinhas-e-fode-com-tudo. Acho que só em Manderlay saquei como a representação sem cenário era uma consequência lógica da evolução do estilo de Lars Von trier, que realça o caráter esquemático e experimental da situação proposta, provocando um distanciamento a la Brecht. . O fascinante é que o filme nos leva à fronteira do realismo, sem, no entanto, quebrá-lo.. Ok, é fácil ver o filme como uma crítica à ação americana no Iraque (reforçada pela foto do seu Bush no final), mas penso que seria simplista demais reduzi-lo a isso.. É mais interessante pensá-lo como uma subversão, um reflexo invertido do esquematismo hollywoodiano, onde o bem e a vontade de fazer o bem sempre triunfam no final..

E, para amenizar o comentário cabeção, a atriz (não, eu não me importo com o nome de atrizes) é linda, linda, linda.. Não precisa nem dizer que vale a pena vê-lo, né?

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